ESTA É A CIDADE
Esta
é a Cidade, e é bela.
Pela
ocular da janela
foco
o sémen da rua.
Um
formigueiro se agita,
se
esgueira, freme, crepita,
ziguezagueia
e flutua.
Freme
como a sede bebe
numa
avidez de garganta,
como
um cavalo se espanta
ou
como um ventre concebe.
Treme
e freme, freme e treme,
friorento
voo de libélula
sobre
o charco imundo e estreme.
Barco
de incógnito leme
cada
homem, cada célula.
É
como um tecido orgânico
que
não seca nem coagula,
que
a si mesmo se estimula
e
vai, num medido pânico.
Aperfeiçoo
a focagem.
Olho
imagem por imagem
numa
comoção crescente.
Enchem-se-me
os olhos de água.
Tanto
sonho! Tanta mágoa!
Tanta
coisa! Tanta gente!
São
automóveis, lambretas,
motos,
vespas, bicicletas,
carros,
carrinhos, carretas,
e
gente, sempre mais gente,
gente,
gente, gente, gente,
num
tumulto permanente
que
não cansa nem descansa,
um
rio que no mar se lança
em
caudalosa corrente.
Tanto
sonho! Tanta esperança!
Tanta
mágoa! Tanta gente!
Uma
circe peregrina,
pedúnculo
de vorticela,
perpassa
sob a janela,
incandesce-me
a retina.
Anda
como sobre escolhos,
irradiando
fragrância.
Envolvo-a
toda nos olhos;
possuo-a
mesmo a distância.
A
multidão chama por mim.
Chama
e reclama
que
eu nela sou princípio e fim.
Lá
vou, lá vou.
Galgo
os lanços da escada de roldão
e
fluo, coloidalmente disperso,
corpúsculo
e onda, sem anverso nem reverso,
fagocitado
pela multidão.
António
Gedeão
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