CORAÇÃO HABITADO
Aqui estão
as mãos.
São os mais
belos sinais da terra.
Os anjos
nascem aqui:
frescos,
matinais, quase de orvalho,
de coração
alegre e povoado.
Ponho nelas
a minha boca,
respiro o
sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as
por dentro, abandonadas
nas minhas,
as pequenas mãos do mundo.
Alguns
pensam que são as mãos de deus
- eu sei que
são as mãos de um homem,
trémulas
barcaças onde a água,
a tristeza e
as quatro estações
penetram,
indiferentemente.
Não lhes
toquem: são amor e bondade.
Mais ainda:
cheiram a madressilva.
São o
primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.
Eugénio
de Andrade
(As Palavras
Interditas)
1 comentário:
O nosso Eugénio
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