Cravo branco
Poema de um casamento «branco»
no Forte de Peniche em 4/1/59
no Forte de Peniche em 4/1/59
Como está pronta a terra para a semente
assim estavas debaixo do meu braço:
os nossos corações estavam tão juntos
que não ficava entre eles o menor espaço.
Na botoeira do meu fato escuro
pregaste um cravo branco.
Não sabia que no teu peito
nasciam cravos de uma tal brancura.
Um funcionário cansado
leu em voz monótona os papéis.
Dissemos: - Sim!-
E cumpriram-se as leis.
O sol deitava bagos de arroz amarelo
ondas pequenas vinham rebentar
na muralha
como garotos endiabrados
a pedir rebuçados.
As gaivotas pelo céu piavam.
Voltei para a cela só olhando o mar:
a tua falta era um cravo branco cortado
no meu peito a sangrar.
António Borges Coelho
in «No Mar Oceano»,
Colecção O Campo da Palavra
Lisboa: Editorial Caminho, edição 9/81, 1981
Colecção O Campo da Palavra
Lisboa: Editorial Caminho, edição 9/81, 1981
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