quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Eu não me calo - Pablo Neruda



Eu não me calo.
Eu preconizo um amor inexorável.
E não me importa pessoa nem cão:
Só o povo me é considerável,
Só a pátria é minha condição.
Povo e pátria manejam meu cuidado,
Pátria e povo destinam meus deveres
E se logram matar o revoltado
Pelo povo, é minha Pátria quem morre.
É esse meu temor e minha agonia.
Por isso no combate ninguém espere
Que se quede sem voz minha poesia.

Pablo Neruda
1980 A meu Partido

Poesia Perigosa
 “Talvez os deveres do poeta fossem sempre os mesmos na história. O valor da poesia foi sair à rua, foi tomar parte num e noutro combate. Não se assustou o poeta quando o chamaram de rebelde. A poesia é uma insurreição. Não se ofendeu o poeta porque o chamaram de subversivo. A vida ultrapassa as estruturas e há novos códigos para a alma. De todas as partes salta a semente, todas as idéias são exóticas, esperamos a cada dia mudanças imensas, vivemos com entusiasmo a mutação da ordem humana: a primavera é insurrecional.”
“A burguesia exige uma poesia cada vez mais isolada da realidade. O poeta que sabe chamar o pão de pão e o vinho de vinho é perigoso para o agonizante capitalismo. Mais conveniente é que o poeta acredite ser “um pequeno deus”, como dissera Vicente Huidobro. Esta crença ou atitude não incomoda as classes dominantes. O poeta permanece assim comovido por seu isolamento divino e não é necessário suborná-lo ou esmagá-lo. Ele mesmo se terá subornado ao se condenar ao céu. Enquanto isso, a terra treme em seu caminho, em seu fulgor.”
Pablo Neruda em “Confesso que Vivi”. capitulo:  “Críticas e Autocríticas”.
Se há sentimentos de mudanças, não pode haver atitudes de isolação. Toda poesia e sabedoria para o povo.

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