Eu não me calo.
Eu preconizo um amor inexorável.
E não me importa pessoa nem cão:
Só o povo me é considerável,
Só a pátria é minha condição.
Povo e pátria manejam meu cuidado,
Pátria e povo destinam meus deveres
E se logram matar o revoltado
Pelo povo, é minha Pátria quem morre.
É esse meu temor e minha agonia.
Por isso no combate ninguém espere
Que se quede sem voz minha poesia.
Pablo
Neruda
1980
A meu Partido
Poesia Perigosa
“Talvez os
deveres do poeta fossem sempre os mesmos na história. O valor da poesia foi
sair à rua, foi tomar parte num e noutro combate. Não se assustou o poeta
quando o chamaram de rebelde. A poesia é uma insurreição. Não se ofendeu o
poeta porque o chamaram de subversivo. A vida ultrapassa as estruturas e há
novos códigos para a alma. De todas as partes salta a semente, todas as idéias
são exóticas, esperamos a cada dia mudanças imensas, vivemos com entusiasmo a
mutação da ordem humana: a primavera é insurrecional.”
“A burguesia exige uma poesia cada vez mais isolada da
realidade. O poeta que sabe chamar o pão de pão e o vinho de vinho é perigoso
para o agonizante capitalismo. Mais conveniente é que o poeta acredite ser “um
pequeno deus”, como dissera Vicente Huidobro. Esta crença ou atitude não
incomoda as classes dominantes. O poeta permanece assim comovido por seu
isolamento divino e não é necessário suborná-lo ou esmagá-lo. Ele mesmo se terá
subornado ao se condenar ao céu. Enquanto isso, a terra treme em seu caminho,
em seu fulgor.”
Pablo Neruda em “Confesso que Vivi”.
capitulo: “Críticas e Autocríticas”.
Se há sentimentos de
mudanças, não pode haver atitudes de isolação. Toda poesia e sabedoria para o
povo.
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