terça-feira, 11 de agosto de 2015

Sou barco - António Borges Coelho - (Luís Cília)

 
Sou barco


Sou barco abandonado
Na praia ao pé do mar
E os pensamentos são
Meninos a brincar

Ei-lo que salta bravo
E a onda verde-escura
Desfaz-se em trigo
De raiva e amargura.

Ouço o fragor da vaga
Sempre a bater ao fundo,
Escrevo, leio, penso,
Passeio neste mundo
De seis passos
E o mar a bater ao fundo.

Agora é todo azul,
Com barras de cinzento,
E logo é verde, verde
Teu brando chamamento

Ó mar, venha a onda forte
Por cima do areal
E os barcos abandonados
Voltarão a Portugal.

António Borges Coelho
"Sou barco" -
(António Borges Coelho/Luís Cília)

1 comentário:

Lurdes disse...

Tão belo! Como se pode assim falar de prisão, de isolamento...Fascinante.L.