quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Canção de Abril - Manuel Alberto Valente

Canção de Abril

nem sempre um homem resiste
aos labirintos do tempo

(morna pelugem da terra  canais
de meus dedos de água
canteiros mortos da mágoa
desesperados sinais)

nem sempre um homem resiste
aos apelos da raiz
esquece um corpo  um país
nos labirintos do tempo

mas se uma vela se apaga
entre outras velas perdida
não esmorece a canção
em Abril na terra ferida

(morna pelugem da terra  sinais
de um tempo futuro
meus dedos saltam o muro
onde caíram meus pais)

Manuel Alberto Valente
[Poesia Reunida - pag.21] QUETZAL

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