quarta-feira, 25 de maio de 2016

Somos cinco mil - Victor Jara


Somos cinco mil

nesta pequena parte da cidade. Somos cinco mil. Quantos seremos no total, nas cidades e em todo o país? Somente aqui, dez mil mãos que semeiam e fazem andar as fábricas.
Quanta humanidade com fome, frio, pânico, dor, pressão moral, terror e loucura!
Seis de nós se perderam no espaço das estrelas.
Um morto, um espancado como jamais imaginei que se pudesse espancar um ser humano.
Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores um saltando no vazio, outro batendo a cabeça contra o muro, mas todos com o olhar fixo da morte.
Que espanto causa o rosto do fascismo!
Colocam em prática seus planos com precisão arteira, sem que nada lhes importe.
O sangue, para eles, são medalhas.
A matança é ato de heroísmo.
É este o mundo que criaste, meu Deus? Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe um número que não cresce, que lentamente quererá mais morte.
Mas prontamente me golpeia a consciência e vejo esta maré sem pulsar, mas com o pulsar das máquinas e os militares mostrando seu rosto de parteira, cheio de doçura.
E o México, Cuba e o mundo?
Que gritem esta ignomínia! Somos dez mil mãos a menos que não produzem.
Quantos somos em toda a pátria?
O sangue do companheiro Presidente golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim golpeará nosso punho novamente.
Como me sai mal o canto quando tenho que cantar o espanto!
Espanto como o que vivo como o que morro, espanto.
De ver-me entre tantos e tantos momentos do infinito em que o silêncio e o grito são as metas deste canto.
O que vejo nunca vi, o que tenho sentido e o que sinto fará brotar o momento…”


Estádio de Chile, Setembro 1973

Seguiremos em luta pela memória das/os companheiras e companheiros que tombaram na luta e seguiremos com o sentimento de Unidade da América Latina.
Por Olga Veiga

1 comentário:

Olinda disse...

O último poema de Vitor Jara (inacabado)tem o peso que ele punha em toda as suas composições.O peso da verdade.Por isso o mataram,mas a sua morte não foi em vão!Abraço