sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Hotel Fraternité - Hans Magnus Enzensberger

 

Hotel Fraternité

Aquele que não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que range os dentes nos carrocéis
Aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que alimenta os esquilos
Aquele que não tem um centavo
Aquele que observa
Aquele que dá socos na parede
Aquele que grita
Aquele que bebe
Aquele que não faz nada

Meu inimigo
Debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão




Hans Magnus Enzensberger


O poema é do grande intelectual de esquerda Hans Magnus Enzensberger, a quem Habermas disse uma vez que ele tinha (tem) "o nariz do vento", pela sua refinada acuidade sociológica para perceber as tendências políticas que se escondem no fenómeno social e económico de nosso tempo.
Arnaldo Antunes musicou o poema, que foi traduzido do alemão por Aldo Fortes.



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