28 de março de 1938 – 1 de junho de 2017
Eu estava ali sentado na pedra da janela
de guilhotina.
Num mundo não camiliano, sem damas de cetim,
mas de mulheres que iam sulfatar
e ficavam de mãos roxas e a cara envinagrada.
Ali, naquela casa, assumia o meu desígnio
de intruso.
Entre as mãos tinha uma fatia de pão-de-ló,
amarelíssima,
e o padre e a patroa ensaiavam um baile
de palavras ínvias.
Testemunha forçada do desejo
aprendia, solitário,
a outra face da vida, para lá das colheitas
e do frio, dos pobres que badalavam
o santíssimo sacramento da eucaristia.
28 de março de 1938 – 1 de junho de 2017
“O que foi passado a limpo
Obra Poética, Assírio
& Alvim. pag. 305
1 comentário:
Mais um poeta da nossa modernidade, que nos deixa órfãos...
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