segunda-feira, 16 de outubro de 2017

UMA CANTIGA COR-DE-TERRA - Hans Magnus Enzensberger


UMA CANTIGA COR-DE-TERRA

Outro poema sobre a morte, etc. –
certamente mas e quanto à batata?
Por razões óbvias não é mencionada
por Horácio ou Homero, a batata.
E o que dizer de Rilke e Mallarmé?
Será que não lhes disse nada, a batata?
Muito poucas palavras rimam
com ela, a batata cor-de-terra?
Não é muito preocupada com o céu.
Espera pacientemente, a batata,
até que a arrastemos para a luz
e a atiremos ao fogo. A batata
não se importa, mas será possível
que seja demasiado quente para os poetas, a batata?
Bom, vamos então esperar um pouco
até que a comamos, à batata,
e a cantemos e depois a esqueçamos novamente.

Hans Magnus Enzensberger
(Tradução de Kurt Scharf e Armindo Trevisan)


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