bairro
alto
Tudo
tem aqui o mesmo abandono:
um
quarto com janelas
para
a rua e um corpo sem desejo
diante
da chuva. Uma mulher que passa
–
a luz presa debaixo das meias –
e
que desaparece, deixa
o
eco de um gemido na pupila
e
a saliva quente do suor
na
memória.
Hotel sem graça,
uma
jarra com água à cabeceira,
uma
revista dentro do armário,
o
fio com um menino Jesus
sobre
o decote, e a mão – a minha mão –
percorre
o náilon.
Agora as páginas
do
diário devolvem-me esta noite,
fria
noite num quarto frio.
Para
que servirá a inteligência?
Um
número na porta, um cheiro acre.
salobre antologia,
averno
2004