PRIMEIRO RETRATO NATURAL
Ela queria perceber o que se passa.
Queria?
Passa a rua às risadas.
«Uscumunistas?»
Gritam flores
da jarra.
Estão inocentes?
O telefone
terrinta.
É o destino?
Na bandeja
de prata, o sedativo.
Por tomar?
Na sala
das porcelanas, a senhora.
Por viver.
*
De sentinela
à porcelana
está Inês
ou Teresa ou
Ana
(Maria, deixa-se ver).
Tem à mão
uma bengala
para o que der e vier:
«Se os bolchevistas
entrarem,
vão ver, vão ver!
As porcelanas
inteiras
é que
eles não
hão-de ter!»
*
Porcelana implora
senhora insiste.
Até que a levam prà cama,
Pauzinho em
riste, zangada.
É uma
terrina vazia
que em sonhos se suicida
à bengalada.
(1975)
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