quinta-feira, 21 de março de 2019

GARIMPEIRO DE POESIA

21 de março
Dia Internacional da Poesia

Desde outubro de 2004 que, semanalmente, envio a muitos dos meus amigos e conhecidos que prezo, mais de cem endereços, um poema por mim selecionado acompanhado dos desejos de um bom fim de semana. Modo singular de os recordar e expandir uma das mais belas e antigas formas de expressar o que sentimos.
Militância que me deixa tranquilo face aos poetas e à poesia assim como perante todos os que semanalmente recordo.

Estes foram os dois primeiros poemas enviados no dia 29 de outubro de 2004

NO REINO DO PACHECO
Às duas por três nascemos,
às duas por três morremos.
E a vida? Não a vivemos.

Querer viver (deixai-nos rir!)
seria muito exigir…
Vida mental? Com certeza!
Vida por detrás da testa
será tudo o que nos resta?
Uma ideia é uma ideia
- e até parece nossa! –
mas quem viu uma andorinha
a puxar uma carroça?

Se à ideia não se der
o braço que ela pedir,
a ideia, por melhor
que ela seja ou queira ser,
não será mais que bolor,
pão abstracto ou mulher
sem amor!

Às duas por três nascemos,
às duas por três morremos.
E a vida? Não a vivemos.

Neste Reino de Pacheco
- do que era todo testa,
do que já nada dizia,
e só sorria, sorria,
do que nunca disse nada
a não ser prá galeria,
que também não o ouvia,
do que, por detrás da testa,
tinha a testa luzidia,
neste Reino de Pacheco,
ó meus senhores que nos resta
senão ir aos maus costumes,
às redundâncias, bem-pensâncias,
com alfinetes e lumes,
fazer rebentar a besta,
pô-la de pernas pró ar?

Por isso, aqui, acolá
tudo pode acontecer,
que as ideias saem fora
da testa de cada qual
para que a vida não seja
só mentira, só mental…

(Poema puxa poema, lembrei-me de Jacques Prévert.)

IL NE FAUT PAS…

Il ne faut pas laisser les intellectuels jouer avec les allumettes
Parce que Messieurs quand on le laisse seul
Le monde mental Messssieurs
N’est pas du tout brillant
Et sitôt qu’il est seul
Travaille arbitrairement
S’érigeant pour soi-même
Et soi-disant généreusement en l´honneur des travailleurs du bâtiment
Un auto-monument
Répétons-le Messssssieurs
Quand on le laisse seul
Le monde mental
Ment
Monumentalment.
In Paroles

Cerca de setecentos poemas e mais de duzentos poetas foram por mim divulgados nestes quase 15 anos.

A seleção dos poetas e poemas nacionais ou estrangeiros é criteriosa, procurando boas traduções, sempre que possível acompanhadas do original. O poeta é identificado com fotografia e com um simples clique no nome acede-se ao seu historial.

Um trabalho agradável, sendo eu o principal beneficiado, não só pela recolha do poema como especialmente pelo modo pessoal de o endereçar. Estou convicto de que divulguei autores esquecidos e para alguns destinatários poetas e poemas que desconheciam, mas o principal mérito foi o de, embora em doses homeopáticas, dar luz à poesia.

Esta minha experiência serviu para aferir que o excesso banaliza, que os e-mails em catadupa perdem personalidade, e o expedidor é tido como relay que nada acrescenta à mensagem por melhor que seja. Esse excesso afoga a curiosidade.
Reflexão que irei aprofundar.

Entretanto, publicados quase diariamente, já divulguei mais de 1700 poemas e muitíssimos poetas no meu blog ‘voar fora da asa’ que se encontra à disposição de quem o queira consultar.

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