Mulher
da Erva
Velha da terra morena
Pensa que é já lua cheia;
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia.
[instrumental]
Saia rota subindo a estrada,
Inda a noite rompendo vem,
A mulher pega na braçada
De erva fresca, supremo bem.
Canta a rola numa ramada,
Pela estrada vai a mulher:
"Meu senhor, nesta caminhada
Nem m'alembra do amanhecer!"
Há quem viva sem dar por nada,
Há quem morra sem tal saber...
Velha ardida, velha queimada,
Vende a fruta se queres comer.
À noitinha, a mulher alcança
Quem lhe compra do seu manjar,
Para dar à cabrinha mansa,
Erva fresca da cor do mar.
[instrumental]
Na calçada uma mancha negra
Cobriu tudo e ali ficou:
Anda, velha da saia preta,
Flor que ao vento no chão tombou!
No Inverno terás fartura
Da erva fora supremo bem...
Canta, rola, tua amargura!
Manhã moça nunca mais vem...
| A Mulher da Erva
Elfiede Engelmayer dá a
explicação deste texto: trata-se de uma velha mulher do Alentejo que ganhava a
vida com a venda de erva. José Afonso conheceu-a quando ela já tinha mais de
setenta anos. Todos os dias, andava pelas ruas e estradas com uma cesta de erva
cuja venda era o seu sustento e com que se alimentava o gado. Esta
"profissão" desapareceu com a modernização da agricultura. A canção
relata o encontro entre o cantor e a mulher. Na segunda estrofe, ele vê-a a
subir a estrada, vindo na sua direcção. Na terceira, eles trocam algumas
palavras e depois ela prossegue o seu caminho sem ouvir o comentário do cantor.
Na primeira estrofe, a "vela condenada pela onda" simboliza que ela
não tem, e nunca teve, futuro.
Oona Soenario (in "A Canção
de Intervenção Portuguesa: Contribuição para um estudo e tradução de
textos", Universidade de Antuérpia, 1994-1995) [cf.
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