segunda-feira, 28 de março de 2022

Os massacres - Pablo Neruda

 

Os massacres

 

Mas aí o sangue foi escondido

atrás das raízes, foi lavado

e negado

(foi tão longe), a chuva do sul limpou a terra

(tão longe foi), o salitre o devorou no pampa:

e a morte do povo foi como sempre tem sido:

como se não morresse ninguém, nada,

como se fossem pedras que caem

sobre a terra, ou água sobre água.

 

De norte a sul, onde trituraram

ou queimaram os mortos,

foram nas trevas sepultados,

ou na noite queimados em silêncio,

acumulados numa escarpa

ou no mar cuspidos os seus ossos:

ninguém sabe onde estão agora,

não têm túmulo, estão dispersos

nas raízes da pátria

seus martirizados dedos:

são fuzilados seus corações:

o sorriso dos chilenos:

os valores do pampa:

os capitães do silêncio.

 

Ninguém sabe onde os assassinos

enterraram estes corpos,

porém sairão da terra

para cobrar o sangue derramado

na ressurreição do povo.

 

No meio da praça foi o crime.

 

Não escondeu o matagal o sangue puro

do povo, nem o tragou a areia do pampa

Ninguém escondeu este crime.

 

O crime foi no meio da Pátria.

 

Pablo Neruda

 

 

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