CORREDOR
Cem metros à sombra — temperatura
De tantos corpos e almas em rodagem.
Neste muro cercado, a maior viagem
Sob um céu de pedra escura.
Sombras em fila, espectros talvez,
Desplantam ecos da raiz do chão.
Lembram comboios que vêm e vão
Sob túneis de pez.
E vêm e vão com pés humanos
Ressoando movimentos tardos,
Levando fardos, trazendo fardos
Das horas sem dias e meses sem anos.
E vêm e vão, sempre, sempre a rodar
Na linha dos railes espectrais,
Sem descarregadores na gare,
Sem guindastes no cais.
E vêm e vão pela via larga
Das redes do sonho e da lembrança,
Levando a carga, trazendo a carga
De toneladas de esperança.
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