sexta-feira, 27 de maio de 2022

CORREDOR - Luís Veiga Leitão

 

CORREDOR

 

Cem metros à sombra — temperatura

De tantos corpos e almas em rodagem.

Neste muro cercado, a maior viagem

Sob um céu de pedra escura.

 

Sombras em fila, espectros talvez,

Desplantam ecos da raiz do chão.

Lembram comboios que vêm e vão

Sob túneis de pez.

 

E vêm e vão com pés humanos

Ressoando movimentos tardos,

Levando fardos, trazendo fardos

Das horas sem dias e meses sem anos.

 

E vêm e vão, sempre, sempre a rodar

Na linha dos railes espectrais,

Sem descarregadores na gare,

Sem guindastes no cais.

 

E vêm e vão pela via larga

Das redes do sonho e da lembrança,

Levando a carga, trazendo a carga

De toneladas de esperança.

 

Luís Veiga Leitão

 

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