sexta-feira, 16 de setembro de 2022

LARVA - Herberto Helder

 


LARVA

Pelo tempo chamado do Outono,
quando a beleza é mais oculta e calma
e na face das coisas pesa o sono
das águas do desejo, fecho a alma
e fico sem estrelas e sem nome.
Humilde, vou tecendo meu destino
futuro de palavras e de fome.
Nesse tempo do Outono meu latino

esplendor é uma cinza paciente.

Meu espírito, um lago verde. Quente,

porém, a gota que leveda ao fundo

do silêncio. Depois serei o Dia,

e com poemas e sangue e alegria

nascerei, incontido, sobre o mundo!...

 

Herberto Helder


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