NÃO ESPERES
O TEMPO
Camarada
poeta: se puderes
pega na
palavra e não te cales
mais. Digo
que não esperes,
para cantar,
o tempo da colheita.
Agora a fome
é tanta
que a
palavra pão também se come.
Quem diz pão
diz fome e a fome de a não ter não é sobeja.
Digo que a
palavra seara faz crescer
o grão da
raiva de a não ter.
Digo que a
palavra fonte faz jorrar
rios de sede
até ao mar.
A palavra
trabalho, a palavra suor,
a palavra
amiga, a palavra amor.
A palavra
precisa, de vendaval ou brisa:
a que
denuncia, a que profetiza.
Digo que a
palavra que disseres
se pode
desfolhar como os malmequeres:
ou muito ou
pouco ou tudo ou nada.
O que não
pode é ficar calada.
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