segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Um pedreiro à hora do almoço - Allen Ginsberg

 

Um pedreiro à hora do almoço

 

Dois pedreiros erguem as paredes

de uma cave sobre um pedaço de terra cavado

há pouco atrás de uma velha casa de madeira

com espigões castanhos invadidos por hera

numa rua sombria de Denver. É meio -dia

e um deles afasta -se devagar. O pedreiro

aprendiz descansa lânguido por

momentos depois de comer uma sanduíche

e de atirar com o saco de papel. Está

de macacão e nada o cobre acima

da cintura; tem cabelo amarelo e traz

na cabeça um boné surrado vermelho

vivo. Languidamente, senta -se no cimo

a parede num escadote encostado

entre as coxas, a cabeça

inclinada, fitando desinteressado

saco de papel pousado na relva. Passa

a mão pelo peito, e depois

esfrega devagar os nós dos dedos no

queixo, e baloiça para trás e para a frente

sobre a parede. Um pequeno gato aproxima -se

ao longo da parede. Agarra

o gato e, por instantes, com o boné

 cobre o corpo do gatinho.

 Entretanto escurece como se fosse chover

 e o vento no cimo das árvores ao longo da

 rua insinua-se como que violentamente.

 

Allen Ginsberg

 Denver, Verão 1947

Sem comentários: