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   O RETRATO DE CATARINA 
   
   
  Esses teus olhos enxutos 
  Num fundo cavo de olheiras 
  Esses lábios resolutos 
  Boca de falas inteiras 
  Essa fronte aonde os brutos 
  Vararam balas certeiras 
  Contam certa a tua vida 
  Vida de lida e de luta 
  De fome tão sem medida 
  Que os campos todos enluta 
  Ceifou-te ceifeira a morte 
  Antes da própria sazão 
  Quando o teu altivo porte 
  Fazia sombra ao patrão 
  Sua lei ditou-te a sorte 
  Negra bala foi teu pão 
  E o pão por nós semeado 
  Com nosso suor colhido 
  Pelo pobre é amassado 
  Pelo rico só repartido 
  Tanta seara continhas 
  Visível já nas entranhas 
  Em teu ventre a vida tinhas 
  Na morte certeza tenhas 
  Malditas ervas daninhas 
  Hão-de ter mondas tamanhas 
  Searas de grã estatura 
  De raiva surda e vingança 
  Crescerão da tua esperança 
  Ceifada sem ser madura 
  Teus destinos Catarina 
  Não findaram sem renovo 
  Tiveram morte assassina 
  Hão-de ter vida de novo 
  Na semente que germina 
  Dos destinos do teu povo 
  E na noite negra negra 
  Do teu cabelo revolto 
  nasce a Manhã do teu rosto 
  No futuro de olhos posto 
  
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