terça-feira, 30 de julho de 2024

4 POEMAS DE DESILUSÃO E DE REVOLTA - João José Cochofel

4 POEMAS DE DESILUSÃO E DE REVOLTA

I

Outra vez este desapego de tudo.

Outra vez

este olhar indiferente para tudo:

não encontrar na vida uma razão de viver.

 

Triste

encosto-me na janela

e olho a natureza livre.

 

Talvez valesse a pena ser árvore…

 

Talvez valesse a pena ser cão.

 

Tudo

menos andar amarrado uma vida inteira

 aos preconceitos inúteis

duma civilização caduca.

II

Isto

de ser o que se não é,

 de andar sempre a mentir

 (quantas vezes a nós próprios!)

tiranizados,

forçados,

chegando mesmo a esquecer,

por vezes,

que somos bois debaixo de uma canga:

Isto, juro-vos,

ainda há de acabar.

III

Porquê

a expiação

de um mal que não cometemos?

 

Porquê

arrastar sempre a grilheta

de um crime que nunca foi?

 

Porquê?

andar conformado, submisso,

dando a desculpa a si próprio

da explicação de tudo

 numa história, aliás bela,

mas estranha,

de serpentes e maçãs…

                   IV

Afinal a vida

é este roer de cardos velhos,

é este deitar-se na palha podre,

é este andar aos tombos pelas ruas:

ver os outros a rir e a chorar

-- e chorar também

para que os outros riam,

   e rir também

para que os outros chorem.

A vida é isto,

e não o que eu sonhei.

 

Raios partam a vida

tal como ela é.

 

João José Cochofel

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