Faleceu António Ramos Rosa
Destacado poeta e crítico português nascido em Faro em 1924. Foi
militante do MUD (Movimento de União Democrática) onde militou
activamente e conheceu a prisão política.
Trabalhou como tradutor e professor, tendo sido um dos directores de revistas literárias como Árvore e
Cassiopeia. O seu primeiro livro de poesia, O
Grito Claro, foi publicado em 1958. A sua obra poética ultrapassa os cinquenta títulos. É ainda autor de ensaios, entre os quais se
salienta A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979-1980). Em 1988 foi distinguido com o Prémio
Pessoa.
Não posso adiar
o amor
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite
e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore.
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação.
Não posso adiar o coração.
António Ramos Rosa