sábado, 28 de setembro de 2013

POEMA DA PALAVRA EXACTA - António Gedeão

POEMA DA PALAVRA EXACTA

Eu dou-te uma palavra, e tu jogarás nela
e nela apostarás com determinação.

Seja a palavra «biltre».

Talvez penses num cesto,
açafate  de ráfia, prenhe de flores e frutos.

Talvez numa almofada num regaço
onde as mãos ágeis manobrando as linhas
as complicadas rendas vão tecendo.

Talvez num insecto de élitros metálicos
emergindo da terra empapada de chuva.

Talvez num jogo lúdico, numa esfera de vidro,
pequena, contra outra arremessada.

Talvez

Mas não.
Biltre é um homem vil, infame e ordinário.
São assim as palavras.

António Gedeão

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