ÇA IRA
Isto vai, caro amigo.
Não como nós queremos, é
certo,
mas isto vai.
Por noites de insónia
e alcatrão
por laranjas e lábios ressequidos
por desespero na voz e escuridão
isto vai, caro amigo.
Por mágoas acesas e relógios
pelo sabor dos braços na alegria
pelo odor das plantas venenosas
isto vai, caro amigo.
Pelo cabo axial que liga a nossa esperança
pela luz dos cabelos, pelo sal
pela palavra remo, pela palavra ódio
isto vai, caro amigo.
Pela ternura e pela confiança
pela vontade e força, as nossas casas
pelo fervor com que inventamos
(e depois calamos)
isto vai, caro amigo.
João Rui de
Sousa
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