ALMA DE CÔRNO
Alma de côrno – isto é, dura como isso;
Cara que
nem servia para rabo;
Idéas e intenções taes que
o diabo
As recusou a ter a seu
serviço –
Ó lama feita vida! ó trampa em viço!
Se é p’ra ti todo o insulto cheira a gabo
– Ó do Hindustão da sordidez
nababo!
Universal
e essencial enguiço!
De ti se suja a imaginação
Ao querer descrever-te em
verso. Tu
Fazes dôr de barriga á inspiração.
Quér faças bem ou mal, hyper-sabujo,
Tu
fazes sempre mal. És como um cú,
Que
ainda que esteja limpo é sempre sujo.
Fernando Pessoa
Nota: reprodução
do poema respeitando a grafia original do fac-símile.
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