CARTA DA INFÂNCIA
Amigo Luar:
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora ainda posso ver as lágrimas
caírem na palma das minhas
mãos e brincar com elas ao orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar
tão cedo e te oiço
Bater, chamar e bater, na fresta da
minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
vem agora,
no bico dos pés
para que eles te não sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
bons dias, amigo.
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora ainda posso ver as lágrimas
caírem na palma das minhas
mãos e brincar com elas ao orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar
tão cedo e te oiço
Bater, chamar e bater, na fresta da
minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
vem agora,
no bico dos pés
para que eles te não sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
bons dias, amigo.
Carlos
de Oliveira
Trabalho Poético
Lisboa, Sá da Costa, 1998 (3ª ed.)
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