sexta-feira, 29 de agosto de 2014

São pedras - Lídia Borges


São pedras

Por cima desta faixa de cinza
haverá poeta capaz
de construir um jardim
chamar as crianças e entregar-lho?

Como desenhar um arco-íris
do terror à lágrima
num céu sempre noturno
riscado por bombas
em lugar de estrelas

Refugiadas nas pupilas
das crianças mortas
estrelas gelam
São pedras

E as pedras armas
e as armas bombas
e as bombas ódios
e os ódios
estilhaços nos olhos dilatados
das crianças mortas

Haverá poeta capaz
de plantar uma árvore
no peito dos homens
chamar as aves e entregar-lha?

Haverá ave
capaz de cantar ainda
dentro do coração inorgânico
dos senhores da guerra?

Lídia Borges
in “Searas de Versos”

(poema amavelmente cedido porque não o consegui surripiar.)
Sou um José do Telhado da poesia, roubo para dar a quem dela necessite.
Avisem a polícia ou internem-me como cleptómano.
 

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Os amigos são para as ocasiões
e...
ainda bem que há ladrões

A Lídia é poeta
nas horas todas

Lídia Borges disse...


Obrigada!

Não prendo/escondo a poesia de quem quer fazer bom uso dela,tento salvá-la de quem a não merece.

Sou "fã" do Zé do Telhado... :)

Lídia