quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

“Olha e observa este vulcão de vozes.” - ARMANDO SILVA CARVALHO


“Olha e observa este vulcão de vozes.”
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Olha e observa este vulcão de vozes.
As inúmeras chamas que desabam nas salas
do poder, aqui, podes ouvi-las.
Sabes como trabalham as palavras
os tijolos e também o cimento.
Agora podes vê-los nas operosas visões
do lume, subindo gota a gota
a estrada incorruptível das raízes
ao cume.
Os amantes do tempo sossegam o desejo.
A praça de vidros cintilantes
ecoa no espaço abrupto cavado pelos sons
que agora te angustiam.
Tens tempo agora de lavar o cérebro
com a alva interior que cristalizou afagos
ausências e prisões.
Não lamentes o choro das mães arrepiadas.
Colhe a participação civil o susto o vento
que acende violento este clarão na chuva.
Entraste nas palavras com toda a vertigem
do silêncio.
E o coro desabou sobre o palácio
as lâminas profundas contra o solo
fendendo a espessa ganga
o pesadelo.
Olha e observa este vulcão de luzes.
Miríficas pupilas que despertam na praça
e recortam no opaco as paredes dum rosto.
Mas não tentes exceder-te.
Encontras nos amigos os travos emotivos
a trave que foi mestra sobre os tetos da história. Não
sejas como aqueles, no jogo absorvidos,
de costas para a cidade,
que cultivam lutas sobre os tabuleiros
e mortos, realmente mortos,
diziam ainda que viviam.

ARMANDO SILVA CARVALHO
(ARMAS BRANCAS – 1977)
- Texto elaborado a partir de uma manifestação de trabalhadores da construção civil, junto ao Palácio de S. Bento.
12 de Novembro de 1975

1 comentário:

Mar Arável disse...

Grande amigo bom poeta

Bela memória viva