quinta-feira, 11 de agosto de 2016

ALEPOPEIA - César Príncipe

ALEPOPEIA

Caem braços nos telhados
Rolam cabeças nos pátios
PiLares esmagam os ombros
Quem corre fica sem pernas
Quem chora fica sem olhos
É assim
É assim                                                            
É assim em Alepo
Pedras ensanguentadas são romãs
Come-se arroz de areia crepitante
As águas são bebidas pelo deserto
Resta uma lágrima por habitante
É assim
É assim
É assim em Alepo
Para ir à escola tropeça-se nos mortos
Para ir à igreja deixamos lá os corpos
É assim
É assim
É assim em Alepo
A electriCidade é avara e fugiDia
Só a esperança mantém a energia
E canta-se
E reza-se
Entre estrondos e ruínas
E os namorados gemem
Nas macas dos hospitAis
Receiam que o seu prazer
Ofenda a dor dos demAis
E jura-se
Vencer o ódio armado
Com dez milhões de pés
Com o rosto alevantado
É assim
É assim
É assim em Alepo
E só Alepo sabe
Impera a lei da bala
E governa o silêncio
Quem deu voz ao monstro
Cala a voz de Alepo
Quem armou o monstro
Montou o Grande Cerco
Só Alepo sabe
Alepo só existe
QUANDO PARIS ARDE

1 comentário:

Olinda disse...

Muito bom,mesmo!Abraço