terça-feira, 30 de agosto de 2016

Retrato de Novembro - Mário de Andrade




Retrato de Novembro
I
Os trabalhadores protestam na rua, Excelência.
Não me incomodam!
Como?!
Não vou sair para essas bandas!
Querem avistar-se com Vossa Excelência.
Não os conheço!
Já estão a fazer barulho.
Manda-os embora!
Não abalam.
Manda-os calar!
Não nos escutam, Excelência.
Bom, somos um país livre!
Mas a gritaria vai-nos incomodar.
Fecha as portas e as janelas!
Mesmo assim os ouviremos.
Tapa os ouvidos!
Também não resulta, Excelência.
Então, ignora-os!
Como?!
Finge que não existem!
Vai ser difícil, Excelência.
Mas não impossível!
II
E os massacres no Alentejo, Excelência?
Oh nada de extraordinário a assinalar
Senão os coveiros já teriam reclamado
Horas suplementares!


3 comentários:

O Puma disse...

Sempre em riste

Olinda disse...

Bem cáustico!Abraço

Unknown disse...

Esse poema não é de Mário de Andrade, mas do português José Pires Campaniço.