BUSINESSMEN
Oh, os homens de negócios!
Em cada membro seu a águia faz o
ninho.
No seu rosto as crianças
descobrem-se intactas
e o coração rebenta no corpo
incendiado.
A paixão faz levantar o braço
ao que escolheu o risco,
ao que salta da boca da memória
com a força do seu peso
e faz de toda a vida a mesma casa
aberta às aves de fortuna.
Eu falo dos que lançam o olhar sobre uma coisa
como se a vissem
pedir que lhe chamassem sua.
Os que
transmitem à alma dos objectos
a febre
dos sentidos, a gula
que os desperta
com os dedos acesos e
alucinados.
Atravessam o tempo,
respiram a matéria,
com um simples assobio
fazem saltar
no chão, amestrados,
um rebanho de escravos, medrosos
e impacientes.
Eu não pedi ao mundo a lastimosa
água
que esta fila de monstros
deixa nos meus olhos.
Sorrio se os vejo empurrar
profetas ou coisas passageiras
para a mesma confusão a que chamam
história.
Que lhes doam os dentes quando as
secretárias,
abrigadas no riso e nos papéis de
crédito,
lhes mostram o programa do duelo
diário.
Que lhes cortem o sexo depois da
refeição
que arrasta atrás de si
o seu cortejo de pequenas vitórias.
Eles só prometem e trazem
o reino do triunfo.
Aos meus ouvidos chega a música
voraz.
Sensíveis
às formas desiguais que se espelham
nas margens
podemos respirar quando enfim
adormecem
sobre os nossos corpos.
E tu – que te sentaste no canto mais
espesso
Das palavras.
E tu – que te deitaste no sono
à espera que a balança do tempo
fizesse do desejo a única corrida,
colhe com eles as hastes de metal
do teu ramo suspeito
e oferece-o se puderes
à tua vida.
“O QUE FOI PASSADO A LIMPO”
Obra poética
Assírio & Alvim
Pág. 266/268
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