Bibliocausto
Que a minha mão não trema
ao deitar no fogo forte e primitivo
todos os traidores
que me deram veneno.
Queimarei o frio
geometrizador da vida
lapidada através de lentes bem
polidas
(ah, o horror daquela pedra voando,
tangida pela mão de não sei que
demônio,
e a pensar, pelo espaço, que ainda
tem arbítrio!…)…
Queimarei o detrator,
maníaco e vaidoso,
que quis deter a vida numa câmara
lenta,
para a tingir depois numa câmara
escura
(ah, o inferno galopando às doidas
nos cavalos sem freios
da vontade cega e sem destino!…)
Queimarei o louco,
ébrio de orgulho,
raivoso de fraqueza,
que destilava haxixe em frascos
verdes
na paisagem alpina
(ah, o prazer com que ainda o
queimaria
em cada uma das voltas pavorosas
do seu Eterno Retorno!…)…
E só ficará comigo
o riso rubro das chamas, alumiando o
preto
das estantes vazias.
Porque eu só preciso de pés livres
de mãos dadas,
e de olhos bem abertos…
Guimarães Rosa
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