Enterro
do camponês - Gravura
do artista plástico
brasileiro Abelardo da Hora
(1924)
In memoriam do camponês desconhecido
O que tinha setenta anos de terra,
um como tantos, morreu pela última vez.
Que umbral de papoilas receberia
devidamente o seu rosto vitorioso?
Quando entrou no cemitério,
o orvalho cintilava em todas as roseiras
e um pássaro de que não sei o nome
descreveu alguns círculos e partiu.
Os calos floriam nas mãos dos homens,
as mulheres perdiam-se no céu azul,
enquanto ele, um como tantos, regressava.
Eu te saúdo, irmão da urze bravia,
setenta vezes setenta
anos de terra em flor e de miséria.
António Cabral
(1931-2007)
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