sexta-feira, 5 de julho de 2019

LUCRÉCIO. Da natureza das coisas.

LUCRÉCIO. Da natureza das coisas.

“De facto, parece-me isto ter a sua razão de ser:
na verdade, tal como os médicos, quando se esforçam
por dar às crianças repugnantes absintos, untam primeiro
os bordos das taças com o doce e dourado líquido do mel,
para ludibriar, só até aos lábios, a idade incauta das crianças
e fazê-las assim beber de um trago o amargo líquido do absinto, e conseguir que, apesar de estarem a ser enganadas
não sejam prejudicadas, mas antes robustecidas
por este procedimento e recobrem a saúde.
Assim também eu quis expor-te esta minha doutrina
por meio da sua eloquente poesia das Piérides
e como que tocá-la com o doce mel das Musas”

LUCRÉCIO. Da natureza das coisas. Tradução (do latim), introdução e notas de Luís Manuel Gaspar Cerqueira. Lisboa,
Relógio d’Água, 2015, p. 64-65.



5 “id quoque enim non ab nulla ratione uidetur;
sed uel uti pueris absinthia taetra medentes
cum dare conantur, prius oras pocula circum
contingunt mellis dulci flauoque liquore,
ut puerorum aetas inprouida ludificetur
labrorum tenus, interea perpotet amarum
absinthi laticem deceptaque non capiatur,
sed potius tali facto recreata ualescat,
sic ego nunc, quoniam haec ratio plerumque uidetur
tristior esse quibus non est tractata, retroque
uolgus abhorret ab hac, uolui tibi suauiloquenti
carmine Pierio rationem exponere nostram
et quasi musaeo dulci contingere melle”

4 SOCAS, F. La naturaleza. Introducción, traducción y notas
de Francisco Socas. Madrid, Editorial Gredos, 2003, p. 19.

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