quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Esta lei - Maria Velho da Costa

Esta lei

 

Ainda que não houvéssemos feito

mais nada desde o século XVI,

erigimos este corpo de leis

invulgarmente justas e certas,

em nome da vontade popular.

A lei democraticamente escrita

pelos representantes legítimos de um povo

e o rosto que esse povo levanta

perante as outras nações.

Resplandecente de esperança e dignidade,

esta lei há-de fazer-nos maiores

do que somos na adversidade e dependência,

porque os homens são construídos ou destruídos

pelas leis que os obrigam e abrigam.

Esta é uma Constituição aventurosa,

projecto de vida certa

deste povo para este povo.

Estes são os novos mandamentos

a que ater-nos durante a longa travessia

até à justiça de todas as leis do mundo.

Mais uma vez chegamos primeiro,

acaso sem ter com quê.

Mas destruir estas tábuas seria

destruir algo daquilo em que sempre

fomos grandes – a capacidade de inscrever

o sonho realizável

na memória e no assombro dos outros povos.

 

Maria Velho da Costa

Março, 1978, Vértice 59

/Março-Abril de 1994

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