Descida aos Infernos
E embora
o teu ódio me degrede
a este inferno,
e me condene
a séculos de sede,
também te acuso, terra:
de sendo fogo
os não queimares,
de tendo vento
os não levares,
de trazeres sobre o dorso
o horror dos mares
onde eles se não somem;
de não soltares
a besta vingadora
no nosso orgulho de homens.
No entanto, a Seara Nova iludira a censura e mantivera a segunda quadra, discretamente reproduzida no entrelinhado da partitura musical, onde podiam ler-se, além da primeira estrofe, os versos censurados da estrofe seguinte:
O vento da nossa fúria
queime as searas roubadas;
e na noite dos ladrões
haja frio, morte e espadas.
1 comentário:
Não poder dar voz livre e solta à criatividade poética, isso sim, seria uma dolorosa descida aos infernos...
Gostei de conhecer o poema, o autor já eu conhecia.
Obrigada, bom fim de semana.
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