Pedro Barroso
Poema do lavrador
de palavras aos políticos
não me
perguntem coisas daquelas que eu não creia
não me perguntem coisas
daquelas que não
sei
remeto para os senhores
as decisões do mundo
tais como governar, fazer decretos lei
no meio da tempestade
no meio das sapiências
se poeta nasci, poeta
morrerei
nem homem de gravata
nem homem
de ciências
apenas de mim próprio, e pouco, serei rei
das decisões do mundo lerei o que
entender
que dentro de mim mesmo às vezes
nasce um rio
e é esse desafio
que nunca
hei-de esquecer
e é essa a diferença que faz o meu feitio
mas digam por favor de onde nasce o sol
que eu basta-me o calor
- para lá me voltarei
e saibam já agora
que se eu
lavrar a terra
me bastará que chova que o
resto eu
o farei
e digam por favor
se o céu inda
nos cobre
e bastará o azul
que em ave me tornei
mantenham com cuidado as árvores
e estradas
pr'a gente poder
ver, p'ra gente
circular
que eu basta-me saúde
e o sonho tão
distante
e a boca perturbante que tu me sabes dar
e a festa de viver
e o gozo e a paisagem
desta curva do Tejo, soprando a brisa leve
e na tranquilidade assim desta viagem
parar-se o tempo aqui, eterno, fresco e breve
que eu voo por toda a parte mas noutro horizonte
e vivo as coisas
simples e rio-me da ambição
e ao fim de tanto
ver, escolherei um
monte
de onde assistirei, sorrindo, ao
vosso enfarte
da ânsia de possuir,
da ânsia de mostrar,
da ânsia da importância,
da ânsia de mandar
e digam por favor
de onde nasce o sol
que eu basta-me o calor
- para lá me voltarei
e saibam já agora
que se eu
lavrar a terra
me bastará que chova que o
resto eu
o farei
e digam por favor
se o céu inda
nos cobre
e bastará o azul
que em ave me tornei
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