Ode ao deus dos ateus
O deus dos ateus não irá queimá-lo na fogueira
ou arrancar suas unhas. Tampouco o fará
clamar ou se curvar, abrir a própria pele com espinhos,
ou adquirir folhas de ouro e vitrais.
Não insistirá que você jejue ou distorça
a forma de sua fome sexual.
Não há guerras travadas nem mulheres apedrejadas em nome dele.
Você não precisa encobrir o rosto
ou sangrar os joelhos por ele.
Você não precisa louvar.
As ameixas vicejam extravagantemente,
os golfinhos cosem o céu ao mar.
Cada seixo e samambaia, charco e peixe,
pertence a você, quer você creia ou não.
Se a neblina se dissipa
quando uma sombra vermelho-ferrugem desliza pela lua,
o deus dos ateus não o está recompensando
por acordar no meio da noite
e tremer descalço no campo.
Este deus não se deixa levar pelo almíscar
do incenso ou pelas tigelas de laranjas,
a máscara lustrada com cochinilha,
costela polida do leão.
Prove das folhas maceradas
da planta sagrada. Dance
até que as estrelas se confundam com um rio de lantejoulas.
A chuva, se vier, virá.
Este deus ama o vírus tanto quanto a criança.
Trad.: Nelson Santander
BASS, Ellen. “Ode to the God of Atheists”.
In:ike a Beggar. EUA: Copper Canyon Press, March 25, 2014
Ode to the God of Atheists
The god of atheists won’t burn you at the stake
or pry off your fingernails. Nor will it make you
bow or beg, rake your skin with thorns,
or buy gold leaf and stained-glass windows.
It won’t insist you fast or twist
the shape of your sexual hunger.
There are no wars fought for it, no women stoned for it.
You don’t have to veil your face for it
or bloody your knees.
You don’t have to sing.
The plums bloom extravagantly,
the dolphins stitch sky to sea.
Each pebble and fern, pond and fish
is yours whether or not you believe.
When fog is ripped away
just as a rust-red shadow slides across the moon,
the god of atheists isn’t rewarding you
for waking in the middle of the night
and shivering barefoot in the field.
This god is not moved by the musk
of incense or bowls of oranges,
the mask brushed with cochineal,
polished rib of the lion.
Eat the macerated leaves
of the sacred plant. Dance
till the stars blur to a spangly river.
Rain, if it comes, will come.
This god loves the virus as much as the child.
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