sábado, 21 de outubro de 2023

Rafeef Ziadah e o seu poema «As tonalidades da ira» Palestina

(duas traduções)

Rafeef Ziadah e o seu poema «As tonalidades da ira» Palestina

 

Deixem-me falar na minha língua árabe

antes que também ocupem minha língua.

Deixem-me falar na minha língua materna

antes que também colonizem sua memória.

Sou uma mulher árabe de cor

e viemos em todas as tonalidades da ira.

Tudo o que meu avô sempre quis fazer

foi levantar-se ao alvorecer e observar-me

a avó prostrar-se a rezar

numa aldeia escondida entre Jafa e Haifa.


Minha mãe nasceu sob uma oliveira

num chão que, dizem, já não é meu;

mas vou cruzar as barreiras, o checkpoint,

os muros loucos do apartheid e voltarei para casa.


Sou uma mulher árabe de cor

e viemos em todas as tonalidades da ira.

Ouviram ontem os gritos da minha irmã,

quando dava à luz num checkpoint

com soldados israelitas olhando entre as suas pernas a próxima ameaça demográfica?

à filha nascida chamou-lhe, Jenin.

E ouviram alguém gritar

«estamos de voltando à Palestina!»

atrás das grades da prisão,

enquanto disparavam gás lacrimogéneo para a cela?

Eu sou uma mulher árabe de cor

e viemos em todas as tonalidades da ira.


Mas dizes-me que esta mulher que há dentro de mim

só te trará o teu próximo terrorista:

barbudo, armado, lenço na cabeça, negro.

dizes-me que mando os meus filhos para morrer?

mas esses são os teus helicópteros,

os teus F-16 no nosso céu.


E falemos um pouco sobre esta questão do terrorismo...

Não foi a CIA que matou Allende e Lumumba?

E quem primeiro treinou Osama?

Meus avós não corriam em círculo, como palhaços,

com capas e capuzes brancos na cabeça

linchando negros.


Eu sou uma mulher árabe de cor

e viemos em todas as tonalidades da ira.

«Quem é essa mulher morena gritando na

manifestação?»

Desculpe. Não deveria gritar?

Esqueci de ser todos os teus sonhos orientais?

O génio da garrafa,

bailarina da dança do ventre,

mulher do harém,

voz suave,

mulher árabe,

Sim, senhor.

Não, senhor.

Obrigado pelas sandwiches de amendoim

que nos atiras dos teus f-16, gosto.


Sim, os meus libertadores estão aqui para matar os meus filhos

chamando-lhe «dano colateral.»


 Eu sou uma mulher árabe de cor

e viemos em todas as tonalidades da ira.

Assim, deixa-me dizer-te, que esta mulher que há dentro de mim

só te trará teu próximo rebelde.

Terá uma pedra numa mão e uma bandeira palestina na outra,

Sou uma mulher árabe de cor...

Tem cuidado, tem cuidado,

com a minha ira.

Rafeef Ziadah

اسمح لي أن أتكلم بلساني العربي قبل أن يحتل لغتي أيضا

Permita me falar minha língua árabe antes que eles ocupem minha língua também.

Permita me falar minha língua materna antes que eles colonizem sua memória também.

Eu sou uma mulher árabe de cor e nós vimos em todos os tons de fúria

Tudo o que meu avô sempre quis foi acordar ao amanhecer e ver minha avó ajoelhar e rezar em uma vila escondida entre Yaffah e Haifa

Minha mãe nasceu sob uma oliveira em um solo que eles dizem que não mais é meu

Mas eu cruzarei suas barreiras, seus checkpoints, seus malditos muros do apartheid e retornarei para minha terra natal

Eu sou uma mulher árabe de cor e nós vimos em todos os tons de fúria

E você ouviu minha irmã gritando ontem, quando ela deu a luz em um checkpoint com soldados israelenses olhando entre as pernas dela para a sua nova ameaça demográfica? Chamou sua bebê de Jenin.

E você ouviu Amna Muna gritando atrás das grades enquanto eles jogavam gás lacrimogêneo em sua cela?

Estamos retornando para a Filastin

Eu sou uma mulher árabe de cor e nós vimos em todos os tons de fúria

Mas você me diz que este útero dentro de mim gerará apenas o seu próximo terrorista

Usando barba, agitando armas, cabeça de toalha, negro da areia

Você me diz que eu envio meus filhos pra morrer

Mas são os seus helicópteros, os seus F-16’s nos nossos céus

E vamos conversar sobre esse negócio de terrorismo por um segundo:

Não foi a CIA que matou Allende e Lumumba?

E quem treinou Bin Laden, em primeiro lugar?

Meus avós não correram por aí como palhaços com capas brancas e capuzes brancos linchando negros!

Eu sou uma mulher árabe de cor e nós vimos em todos os tons de fúria

Então, quem é aquela mulher marrom gritando em um protesto?

Desculpe, eu não deveria gritar?

Eu me esqueci de ser seu sonho orientalista, gennie in a bottle, dançarina do ventre, garota de harém, mulher árabe de fala mansa

- “Sim, mestre! Não, mestre! Obrigado pelos sanduíches de manteiga de amendoim chovendo dos seus F-16’s sobre nós, mestre!”

Sim, meus libertadores estão aqui para matar meus filhos e chamá-los de dano colateral

Eu sou uma mulher árabe de cor e nós vimos em todos os tons de fúria

Então permita-me lhe dizer que este útero dentro de mim lhe trará apenas a sua próxima rebelde.

Ela terá uma pedra em uma mão e uma bandeira Palestina na outra

Eu sou uma mulher árabe de cor

Cuidado, tenha cuidado com minha fúria

*Tradução: Plínio Zúnica

 

Sem comentários: