quinta-feira, 30 de novembro de 2023

UM HOMEM - António José Forte

UM HOMEM

De repente
como uma flor violenta
um homem com uma bomba à altura do peito
e que chora convulsivamente
um homem belo minúsculo
como uma estrela cadente
e que sangra
como uma estátua jacente
esmagada sob as asas do crepúsculo
um homem com uma bomba
como uma rosa na boca
negra surpreendente
e à espera da festa louca
onde o coração lhe rebente
um homem de face aguda
e uma bomba
cega
surda

Muda

António José Forte

Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Não me Canso de Falar - Mahmoud Darwish

 

Não me Canso de Falar

Não me canso de falar sobre a diferença ténue
entre as mulheres e as árvores,
sobre a magia da terra, sobre um país cujo carimbo
não encontrei em nenhum passaporte.
Pergunto: Senhoras e senhores de bom coração,
a terra dos homens é, como vós afirmais, de todos os homens?
Onde está então o meu casebre? Onde estou eu?
A assembleia aplaudiu-me durante três minutos,
três minutos de liberdade e de reconhecimento…
A assembleia acaba de aprovar
o nosso direito ao regresso,
como o de todas as galinhas e todos os cavalos,
a um sonho de pedra.
Aperto-lhes a mão, um a um, depois faço uma saudação,
inclinando-me…
e continuo a viagem para outro país,
onde falarei sobre a diferença
entre miragens e chuva.
E perguntarei:
Senhoras e senhores de bom coração,
a terra dos homens
é de todos os homens?
 

Mahmoud Darwish
(Poeta palestino, 1941-2008)

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Sísifo - Miguel Torga

 

Sísifo

Recomeça...

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

 

Miguel Torga

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

A terra nos é estreita - Mahmud Darwich

 

A terra nos é estreita

A terra nos é estreita. Ela nos encurrala no último desfiladeiro

E nós nos despimos dos membros

Para passar. A terra nos espreme. Fôssemos nós o seu trigo para morrer e

ressuscitar.

Fosse ela a nossa mãe para se compadecer de nós.

Fôssemos nós as imagens dos rochedos

que o nosso sonho levará como espelhos.

Vimos o rosto de quem, na derradeira defesa da alma,

o último de nós matará. Choramos pela festa dos seus filhos e vimos o rosto

Dos que despenham nossos filhos pela janela deste último espaço.

Espelhos que a nossa estrela polirá.

Para onde irmos após a última fronteira?

Para onde voarão os pássaros após o último céu?

Onde dormirão as plantas após o último vento?

Escreveremos nossos nomes com vapor

carmim, cortaremos a mão do canto para que nossa carne o complete.

Aqui morreremos. No último desfiladeiro.

Aqui ou aqui... plantará oliveiras

Nosso sangue.

Mahmud Darwich

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Cantiga do Ódio - Carlos de Oliveira

 

Cantiga do Ódio

O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?

Carlos de Oliveira

, in 'Mãe Pobre'

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Cólera e Tristeza - Mahmoud Darwish

 


Cólera e Tristeza

 

A aldeia em ruínas

como um espantalho

a terra rachada

e os troncos de vossas oliveiras

como ninhos de coruja ou de corvos

quem preparou este ano a carreta?

quem trabalhou a terra?

tu! onde está teu irmão... onde teu pai

miragens

de onde vens? de uma muralha?

ou acaso das nuvens?

velas pela dignidade dos mortos?

ou fechas tua porta ao cair da noite?

por que não te sublevas

desde o momento em que a carne do pai

está crucificada

sobre as botas da noite

 

tu a amas?

eu a amei antes de ti

e tremi em suas margens escuras

era bela

mas dançou sobre minha tumba

tu e eu

pedimos satisfações à história

à bandeira que perdeu sua virilidade

quem somos?

deixa que a pressa das ruas

beba na indignidade de nosso estandarte assassinado

por que não te rebelas

quando ela estende seus braços aos outros

e seus seios

 

temos suportado a tristeza durante anos

e o sol não tem nascido

a tristeza é um fogo que o tempo consome

e que o vento desperta

e como domarás o vento

sem armas

exceto a coalizão de vento e fogo

numa pátria violada.

 

Mahmoud Darwish

 

Em: “Folhas de oliveira” (1964


sábado, 18 de novembro de 2023

José Afonso - "Menino d'Oiro"



Menino d’oiro

O meu menino é d'oiro é de oiro fino
Não façam caso que é pequenino
Não façam caso que é pequenino

O meu menino é d'oiro d'oiro fagueiro
Hei de levá-lo no meu veleiro
Hei de levá-lo no meu veleiro

Venham aves do céu pousar de mansinho
Por sobre os ombros do meu menino
Do meu menino, do meu menino

Venham comigo venham que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó
Levo o menino no meu trenó

Quantos sonhos ligeiros p'ra teu sossego
Menino avaro não tenhas medo
Menino avaro não tenhas medo

Onde fores no teu sonho quero ir contigo
Menino d'oiro sou teu amigo
Menino d'oiro sou teu amigo

Venham altas montanhas ventos do mar
Que o meu menino nasceu p'ra amar
Que o meu menino nasceu p'ra amar

Venham comigo venham que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó
Levo o menino no meu trenó

O meu menino é d'oiro
Não façam caso que é pequenino
Não façam caso que é pequenino

O meu menino é d'oiro d'oiro fagueiro
Hei de levá-lo no meu veleiro
Hei de levá-lo no meu veleiro

Venham altas montanhas ventos do mar
Que o meu menino nasceu p'ra amar
Que o meu menino nasceu p'ra amar

Venham comigo venham que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó
Levo o menino no meu trenó

 



quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Não se pode viver sem esperança - Nazim Hikmet

Não se pode viver sem esperança. 

A maioria das pessoas viaja na coberta dos navios
na terceira classe dos comboios
a pé pelas estradas…
A maioria das pessoas.

A maioria das pessoas começa a trabalhar aos oito anos
casa aos vinte
morre aos quarenta.
A maioria das pessoas.

Para todos há pão, salvo para a maioria das pessoas.
arroz também
açúcar também
roupas também
livros também
Há para todos, salvo para a maioria das pessoas.

Não há sombra na terra para a maioria das pessoas
não há candeeiros nas ruas
não há vidros nas janelas.
Mas a maioria das pessoas tem a esperança.
Não se pode viver sem esperança.

Nazim Hikmet

 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Na última noite nesta terra - MAHMOUD DARWISH

 

I

Na última noite

nesta terra 

 

Na última noite nesta terra, arrancamos os dias

das pequenas árvores, e contamos as costelas que levaremos junto

e aquelas que deixaremos aqui, na última noite

não diremos adeus, não teremos tempo para acabar.

Tudo ficará como está, já que o lugar trocará os nossos sonhos

e trocará os nossos hóspedes. De uma hora para outra, não saberemos mais brincar

porque o lugar estará pronto para receber a poeira... Aqui, na última noite,

contemplamos as montanhas rodeadas de nuvens: a conquista... a reconquista

o tempo antigo a entregar ao tempo novo as chaves dos portões.

Entrem, senhores conquistadores, entrem nas nossas casas, bebam do vinho

das nossas doces “muachahat”. Seremos a noite e, finda a meia-noite,

já não haverá mais auroras levadas em dorso de cavalo, ouvido o último muezim.

O nosso chá é verde, é quente, bebam, o amendoim é fresco, comam,

as camas são verdes, a madeira é de cedro, entreguem-se ao sono

depois de tão longo cerco, durmam nas plumas dos nossos sonhos,

os lençóis estão estendidos, os perfumes esperam por vocês à porta, há muitos espelhos, entrem, nós vamos sair de vez, e vamos depois procurar saber

como era a nossa história frente à história de vocês na longínqua terra,

vamos nos perguntar por fim: onde era o Alandalus

aqui ou lá? nesta terra ou no poema? 

 

MAHMOUD DARWISH

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Cada vez que respiro… - Rafeef Ziadeh

 

Cada vez que respiro…

Sou a terceira geração de mulheres que nunca passaram dos 40.

Eliminadas: de uma forma ou doutra.

Balas ou recordações de balas. Roubaram-nos.

Eramos as pessoas erradas, da religião errada, num estado

desenhado para a exclusividade. Instalado na terra e na pele.

 

Cada vez que respiro…

Sou cada um dos seus suspiros junto a uma janela.

Cada viagem de autocarro à sala de espera da prisão.

Cada abraço o mais longo possível

até ser interrompido por um soldado.

Cada mão trémula que procura entre as ruínas.

 

Estão comigo. Levam-me.

Sou a terceira geração de mulheres que o conseguiram.

Cada vez que inspiro. Cada vez que expiro.

Conseguiram. Conseguimos.


Rafeef Ziadeh

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Tem gente com fome - Solano Trindade

Tem gente com fome

 

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
pra dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiii

estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer

Mas o freio do ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuu

 

Solano Trindade

 



sábado, 11 de novembro de 2023

Do lado da verdade - Hiba Hamal Abu Nada

24-6-1991 20-10-2023

هبة كمال صالح أبو ندى

Hiba Hamal Abu Nada

معتمٌ ليل المدينة إلا من وهجِ الصواريخ، صامتٌ إلا من صوت القصف، مخيف إلا من طمأنينة الدعاء، أسود إلا من نور الشهداء. تصبحي على خير يا #غزة.

A noite na cidade é escura,

exceto pelo brilho dos

mísseis;

silenciosa, exceto pelo

som dos bombardeios;

assustadora, exceto pela

garantia das súplicas;

negra, exceto pela luz do

 mártires.

Boa noite, #Gaz

هبة كمال صالح أبو ندى

Hiba Hamal Abu Nada 

Morreu sob os bombardeios sionistas.

Um dia antes, escreveu:

«Se morrermos, saibam que estamos satisfeitos e firmes, e digam ao mundo, em nosso nome, que somos pessoas justas

Do lado da verdade»

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

CANÇÃO - Alexandre O’Neill

 


CANÇÃO


Que saia a última estrela

da avareza da noite

e a esperança venha arder

venha arder em nosso peito

E saiam também os rios

da paciência da terra

É no mar que a aventura

tem as margens que merece

E saiam todos os sóis

que apodreceram no céu

dos que não quiseram ver

- mas que saiam de joelhos

E das mãos que saiam gestos

de pura transformação

Entre o real e o sonho

seremos nós a vertigem

 

Alexandre O’Neill

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Livre é o dom - Manuel Gusmão

1945 - 2023

Livre é o dom

Livre é o dom nas mãos do mundo: a alegria.

Nunca saberás dizer como se move sobre as águas a verdade
- a verdade que dança no teu corpo - e no seu teatro
sopra as almas como o vento as telas.

Mas para que uma última vez possas dançar
podemos, sim, pôr aqui o fogo
e a árvore da música: a vibração da sua haste

comunica-se; E o mundo estremece: a vibração
do mundo; quando não estamos a olhar.

 

Manuel Gusmão

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Poema da terra - MAHMUD DARWICH

 

Poema da terra

1

Em março, no ano da Intifada, a terra nos disse seus segredos de sangue. Em março,

cinco meninas passaram diante da violeta e do fuzil. Pararam à porta de uma escola

primária e queimaram junto à rosa e o tomilho. Começaram o canto da terra e se

entregaram ao abraço final. Março chega à terra vindo de dentro da terra e da dança das

meninas - a violeta se curvou um pouco para a voz das meninas passar. Os pássaros

esticaram os bicos em direção do canto e do meu coração.

Eu sou a terra

e a terra é você

Ḫadīja! Não feche a porta

não entre na ausência

vamos expulsá-los do vaso de flores e do varal

vamos expulsá-los das pedras deste caminho longo

vamos expulsá-los do ar da Galileia.

Em março, cinco meninas passaram diante da violeta, do fuzil. Caíram à porta de uma

escola primária. Nos dedos o giz na cor dos pássaros. Em março a terra nos disse seus

segredos.

2

A terra chamo de extensão da minha alma

as mãos chamo de borda das feridas

e chamo de asas o seixo

e chamo de amêndoa e de figo os pássaros

e chamo de árvore as costelas

e da figueira em meu peito destaco um ramo,

lanço como uma pedra

e destruo o tanque dos invasores.

3

Em março, trinta anos e cinco guerras antes,

nasci em cima de um monte de ervas reluzentes sobre as tumbas.

Meu pai era prisioneiro dos ingleses enquanto minha mãe cuidava de suas tranças e do

meu crescimento na relva. Eu adorava as feridas de amor, flor que eu juntava nos

bolsos, e elas murchavam ao meio-dia. Um tiro atravessou minha lua, e ela não quebrou,

mas o tempo passou por ela e, sem querer, caiu.

Em março nos estendemos na terra.

Em março a terra se espalha em nós

encontros obscuros,

simples comemorações,

descobrimos o mar debaixo das janelas

e a lua triste no alto do cipreste.

Em março entramos na primeira prisão e no primeiro amor

as memórias precipitam sobre uma vila sitiada,

nascemos lá e nunca ultrapassamos as sombras do marmeleiro.

Como fogem dos meus caminhos, sombras do marmeleiro?

Em março entramos no primeiro amor

e na primeira prisão

e as memórias iluminam um crepúsculo em língua árabe:

O amor me diz um dia: Entrei sozinho em seu sonho, me perdi e o sonho se perdeu em mim. Eu disse: Multiplique-se! Talvez o rio corra até você.

Em março a terra descobre seus rios.

O termo jurḥ alḥabīb é o nome de um tipo de flor semelhante ao lírio do campo, ou lírio do vale.

4

Meu país, distante de mim como meu coração!

Meu país, perto de mim como minha prisão!

Por que cantar

um lugar, se meu rosto é um lugar?

Por que cantar

a uma criança que dorme num montinho de açafrão

se nas bordas do sonho há uma adaga

se minha mãe me dá o seu peito

e morre na minha frente

numa bufada de âmbar?

5

Em março despertam os cavalos

senhora terra!

Que canção percorrerá o seu ventre ondulante depois de mim?

Que canção combina esse orvalho com o incenso

como se os templos agora se questionassem sobre os profetas da Palestina em seu

contínuo início.

Verdeja a distância e avermelham as pedras -

Esta é minha canção

e como o Messias evade a ferida e o vento

verde, como as plantas, ele recobre seus pregos e minhas correntes.

Esta é minha canção.

É como o jovem árabe ascende ao sonho e a Jerusalém.

Em março despertam os cavalos.

Senhora terra!

Os cavalos fazem da espiral de picos um tapete de rezas

oram as lanças e meu sangue

fazem um arco da semiesfera

e meu rosto e o teu rosto são Haifa e as bodas.

Em março o mar se recolhe da nossa terra estendida como

um cavalo para o sexo.

Em março o sexo se ergue nas árvores da costa árabe.

As ondas devem confinar as ondas... devem ondular... devem

se casar... ou afundar no algodão.

Eu lhe imploro, senhora terra, que me permita habitar o seu relincho.

Eu imploro que me enterre com as pequenas meninas entre a violeta e o fuzil.

Eu lhe imploro, senhora terra, que fertilize minha vida dividida entre duas questões:

como? e onde?

Esta é minha primavera primeira.

Esta é minha primavera final.

Em março a terra casou suas árvores.

6

É como se eu voltasse para o que passou

e andasse sempre um passo à frente,

e entre o azulejo e a satisfação

recupero a harmonia.

Sou o menino das palavras simples

sou mártir do mapa

sou a flor nos galhos do damasqueiro.

Pois então, opressores ao limite do impossível

desde o Sul até a Galileia,

devolvam-me as minhas mãos

devolvam-me a identidade!

7

Em março as sombras chegam sedosas e os invasores chegam sem sombras

os pássaros vêm obscuros como a confissão das meninas

às claras como os campos

os pássaros são as sombras dos campos cobrindo o coração e as palavras.

Ḫadīja!

Onde estão suas netas que foram atrás do novo amor?

Foram colher procurando pedras -

disse Ḫadīja, enquanto chama por elas debaixo do orvalho.

Em março a terra anda como um sangue fresco ao meio-dia. Cinco meninas escondem

um campo de trigo debaixo da trança. Elas leem os primeiros versos de uma canção

sobre o vinhedo de Hebron, escrevem cinco cartas:

Viva meu país

do Sul à Galileia

elas sonham com Jerusalém depois das provas da primavera e da expulsão dos

invasores.

Ḫadīja! Não feche a porta

e não vá nas nuvens

hoje vai chover

vai chover balas

hoje vai chover!

Em março, no ano da Intifada, a terra nos disse seus segredos de sangue. Cinco meninas

paradas na porta da escola primária se depararam com os soldados. Brilha um verso

verde... verde. Cinco meninas paradas na porta da escola primária se quebram como

espelhos

as meninas espelham o país no coração...

Em março a terra queimou suas flores.

8

Sou testemunha da chacina

mártir do mapa

sou o menino das palavras simples

vi o seixo são asas

vi o orvalho são armas

quando fecharam a porta do meu coração em mim e instalaram fronteiras em mim

e fundaram a proibição de ir e vir

meu coração se tornou uma rua

e minhas costelas viraram pedras

brotou o cravo

brotou o cravo.

9

Em março as plantas têm perfume. É quando os elementos se casam. “Março é o mais

duro dos meses” e o mais libidinoso. Que espada atravessa meus soluços e meus

suspiros e não se quebra? Esse é o meu abraço agrícola no apogeu do amor. É como eu

saio para a vida.

Enrolem-se, plantas, e juntem-se à intifada do meu corpo e à volta do sonho ao meu

corpo.

A terra explodirá enquanto confirmo esse grito contido à irrigação e à timidez campesina.

Em março chegamos à obsessão das memórias, e as plantas crescem em nós brotando

em todas as direções. É como crescem as lembranças. Chamo de lembrança minha

subida no cinamomo. Vi uma menina à beira do mar há 30 anos e disse: Eu sou a onda,

e ela se afastou na lembrança. Vi dois mártires escutando o mar: Acre vem com a onda.

Acre vai com a onda. Os dois se afastam na lembrança.

Ḫadīja inclinou-se em direção ao orvalho, e eu me queimei. Ḫadīja! Não feche a porta!

Que os povos entrarão neste livro e o sol de Jericó se esconde sem cerimônias.

Nação de profetas... seja inteira!

Nação de semeadores... seja inteira!

Nação de mártires... seja inteira!

Nação de refugiados... seja inteira!

Cada caminho das montanhas é uma extensão desse canto.

Todas as canções em você são extensões de uma oliveira que me envolve.

3 Espécie de árvore também conhecida como Amargoseira.

10

Uma noite pequena numa vila abandonada

e seus olhos dormem

volto trinta anos

e cinco guerras

vejo que o tempo

guardou para mim uma espiga

canta o cantor

a respeito de fogo e de ausentes

a noite era noite

e o cantor cantava.

Perguntaram a ele:

Por que você canta?

Ele respondeu:

porque eu canto.

Procuraram em seu peito

mas só encontraram o coração

e procuraram no seu coração

mas só encontraram o povo

e procuraram na sua voz

mas só encontraram a tristeza

e procuraram na sua tristeza

mas só encontraram a prisão

e procuraram na sua prisão

mas só encontraram as correntes.

Atrás das colinas

dorme sozinho o cantor

e em março

brotam nele as sombras.

11

Eu sou a esperança, a costa, a vastidão - disseram-me a terra e a relva, como se me

saudassem na aurora.

Esse é o preço de viver por Ḫadīja. Não fui plantado para ser colhido.

O ar da Galileia quer falar de mim, mas adormece quando está em Ḫadīja.

As gazelas da Galileia querem hoje destruir o meu cárcere, mas velam a sombra de

Ḫadīja, enquanto ela se inclina sobre o seu fogo.

Ḫadīja! Eu vi... confirmo o que vi, ela me tomou em toda a sua extensão, em todo o seu

ar.

Sou o eterno apaixonado, o prisioneiro por natureza.

A laranja tomou o meu verde e se fez a ideia de Jafa.

Eu sou a terra desde que conheci Ḫadīja.

Não fui conhecido para ser morto.

A planta da Galileia tem o poder de florir entre os dedos da minha mão e de desenhar

esse lugar disperso entre meu esforço e o amor de Ḫadīja.

É o preço de se viver de novo o mês de março

até que o ar abandone a terra.

Esta terra é minha terra

esta nuvem é minha nuvem

e esta é a fronte de Ḫadīja.

Sou o eterno apaixonado – o prisioneiro por natureza

o cheiro da terra me acorda no início da manhã...

e a minha corrente de ferro o acorda no início da noite.

Este é o preço de se viver de novo.

Os que buscam a vida não perguntam pela vida

perguntam pela terra: já se levantou

minha criança, a terra?

Você foi conhecida para ser degolada?

Prenderam você nos nossos sonhos, e com isso você desceu até as nossas feridas no

inverno?

Você foi conhecida para ser degolada?

Prenderam você nos sonhos deles, e com isso você subiu até os nossos sonhos na

primavera?

Eu sou a terra...

Vocês que buscam a semente de trigo em seu berço

arem meu corpo!

Vocês que vão à montanha de fogo

passem sobre o meu corpo!

Vocês que vão à Rocha de Jerusalém

passem sobre o meu corpo!

Vocês que passam sobre o meu corpo

Não passarão!

Eu sou a terra em um corpo

Não passarão!

Eu sou a terra que desperta

Não passarão!

Eu sou a terra. Vocês que passam sobre a terra que desperta

Não passarão!

Não passarão!

Não passarão

 

MAHMUD DARWICH


-1-

في شهرآذارَ، في سَنَة االنتفاضة، قالت ْ لنا األرض ُ أسرارَها الدمويَّةَ. في شهر آذار َ مَرّت ْ أمام البنفسج والبندقيّة خمس بناتٍ.

وقَفْن َ على باب مدرسة ابتدائية، واشتعلن مع الورد والزعتر ِ البلديّ. افتتحن َ نشيد التراب. دخلن العناق َ النهائي–آذار ُ يأتي إلى

األرض منباطن األرض يأتي، ومن رقصة الفتيات–البنفسج ُ مال قليال ً ليعبر صوت ُ البنات. العصافير ُ مَدّت ْ مناقيرها في اتّجاه

النشيد وقلبي.ُ

أنا األرضِ

واألرض ُ أنت

خديجة ُ ! ال تغلقي الباب

ال تدخلي في الغياب

سنطردهم من إناء الزهور وحبل الغسيل

سنطردهم عن حجارة هذا الطريق الطويل

سنطردهم من هواء الجليل.

وفي شهر آذار، مرّت أمام البنفسج والبندقيّة خمس ُ بناتٍ. سقطن على باب مدرسة ٍ ابتدائية. للطباشير فوق األصابع لون ُ العصافيرِ.

في شهر آذار قالت لنا األرض أسرارها.

-2-

أُسمّي التراب َ امتدادا ً لروحيِ

أُسمّي يدي ّ رصيف َ الجروح

ْ أُسمّيالحصى أجنحه

أُسمّي العصافير لوزا ً وتينْ

أُسمّي ضلوعي شجرً

وأستل ّ من تينة الصدر غصناْ

وأقذفه ُ كالحجر

وأنسف ُ دبّابة َ الفاتحين .

-3-

وفي شهر آذار، قبل ثالثين عاما ً وخمس حروب،

وُلدت ُ على كومة من حشيش القبور المضيء.

 

عند الظهيرة، مَر ّ الرصاص ُ على قمري الليلكي ِّ فلم ينكسرْ، غير أن ّ الزمان يَمر ّ على قَمَري الليلكي ِّ فيسقط ُ سهواً...ِ

وفي شهر آذار نمتد ُّ في األرض

في شهر آذار تنتشر ُ األرض ُ فيناً

مواعيد َ غامضةً

واحتفاال ً بسيطا

ونكتشف البحر َ تحت النوافذ

والقمر َ الليلكي َّ على السروٍّ

في شهر آذار ندخل ُ أوّل سجن ٍ وندخل ُ أوّل حُب

وتنهمر ُ الذكريات ُ على قرية ً في السياجِ

وُلدنا هناك ولم نتجاوز ظالل السفرجل

كيف تفرّين من سُبُلي يا ظالل السفرجل؟

ٍّفي شهر آذارندخل ُ أوّل حُبٍ

وندخل ُ أوّل سجن

وتنبلج ُ الذكريات ُ عشاء ً من اللغة العربية:

قال لي الحب ُّ يوماً: دخلت ُ إلى الحلم وحدي فضعت ُ وضاع َ بي الحلمُ. قلت ُ تكاثرْ! تَر َ النهر يمشي إليك.

وفي شهر آذار تكتشف األرض أنهارها.

-4-

بالدي البعيدة َ عنّي.. كقلبي!

بالدي القريبة َ مني.. كسجني!

لماذا أغنّي

مكاناً، ووجهي مكانْ؟

لماذا أغنّي

لطفل ٍ ينام ُ على الزعفران؟

وفي طرف النوم خنجر

وأُمّي تناولني

صدرها

وتموت ُ أمامي

بنسمة ِ عنبر؟

-5-ُ

وفي شهر آذار تستيقظ الخيل

سيّدتي األرضَ!

أي ُّ نشيد ٍ سيمشي على بطنك المتموِّج، بعدي؟ٍ

َ وأي ُّ نشيديالئم ُ هذا الندى والبَخُور

كأن َّ الهياكل تستفسر ُ اآلن عن أنبياء فلسطين َ في بدئها المتواصلِ

هذا اخضرار ُ المدى واحمرار ُ الحجارة-

هذا نشيدي

وهذا خروج ُ المسيح من الجرح والريح

أخضر َ مثل النبات يُغطّي مساميرَه ُ وقيودي

وهذا نشيدي

وهذا صعود ُ الفتى العربي ّ إلىالحلم والقدس.

في شهر آذار تستيقظ الخيلُ.

سيّدتي األرضَ!ِ

والقمم ُ اللّولبيَّة ُ تبسطها الخيل ُ سجّادة ً للصالة ِ السريعة

بين الرماح وبين دمي.

نصف دائرة ٍ ترجع ُ الخيل ُ قوسا

 

وفي شهر آذار ينخفض ُ البحر ُ عن أرضنا المستطيلة مثل حصان ٍ علىوتر ِ الجنسِ.ّ

في شهر آذار ينتفض ُ الجنس ُ في شجر الساحل العربي

وللموج أن يحبس الموج َ ... أن يتموّجَ...أن

يتزوّج .. أو يتضرّح بالقطن

أرجوك–َسيّدتي األرض–ِأن تُسكنيني صهيلَكِ

أرجوك أن تدفنيني مع الفتيات الصغيرات بين البنفسج والبندقية

أرجوك–َسيدتي األرض–أن تُخْصبي عُمْري َ المتمايل َ بين سؤالين: كيف؟ وأين؟ُّ

وهذا ربيعي الطليعيُّ

وهذا ربيعي النهائي

في شهر آذار زوَّجت ْ األرض ُ أشجارها.

-6-

كأنّي أعود ُ إلى ما مضى

كأنّي أسير ُ أمامي

وبين البالط وبين الرضا

أُعيد ُ انسجاميْ

أنا ولد ُ الكلمات البسيطهْ

وشهيد ُ الخريطه

أنا زهرة ُ المشمش العائليَّهْ.

فيا أيّها القابضون على طرف المستحيل

من البدء حتّى الجليلَّ

أعيدوا إلي ّ يدي

أعيدوا إلي ّ الهويَّهْ!

-7-ٍ

وفي شهر آذار تأتي الظالل حريرية ً والغزاة ُ بدون ظالل

وتأتي العصافير ُ غامضة ً كاعتراف البنات

وواضحة ً كالحقولُّ

العصافير ُ ظلالحقول على القلب والكلمات.

خديجةُ!

-أين حفيداتك الذاهبات ُ إلى حبِّهن الجديد؟

-ذهبن ليقطفن بعض الحجارة-

قالت خديجة ُ وهي تحث ُّ الندى خلفهنّ.ٍ

وفي شهر آذار يمشي التراب دما ً طازجا ً في الظهيرة. خمس ُ بنات ٍ يخبّئن َ حقال ً من القمح تحت الضفيرة. يقرأن مطلع أنشودةعلى

دوالي الخليل، ويكتبن خمس رسائل:

تحيا بالدي

من الصّفْر ِ حتّى الجليل

ويحلمن بالقدس بعد امتحان الربيع وطرد الغزاة.

خديجةُ! ال تغلقي الباب خلفك

ال تذهبي في السحاب

ستمطر هذا النهارً

ستمطر ُ هذا النهار رصاصا

ستمطر ُ هذا النهار!

وفي شهر آذار، في سنة االنتفاضة،قالت لنا األرض أسرارها الدّمويّةَ: خمس ُ بنات ٍ على باب مدرسة ابتدائيَّة ٍ يقتحمن جنود

المظالّت. يسطع ُ بيت ٌ من الشعر أخضرَ... أخضر.

خمس ُ بنات ٍ على باب مدرسة ابتدائية ينكسرن مرايا مرايا

البنات ُ مرايا البالد على القلبِ..

.

-8-

ُ أنا شاهد ُ المذبحهُ

وشهيد ُ الخريطهُ

أنا ولد ُ الكلمات ُ البسيطه

رأيت ُ الحصى أجنِحة

رأيت الندى أسلِحة

عندما أغلقوا باب قلبي عليّا

وأقاموا الحواجز فيّا

ومنع التجوُّلْ

صار قلبي حارةْ

وضلوعي حجارة

وأطل ّ القرنفل

وأطل ّ القرنفل

-9-

وفي شهر آذار رائحة ٌ للنباتات. هذازواج ُ العناصر. "آذار أقسى الشهور" وأكثرها شَبقاً. أي ّ سيف ٍ سيعبر ُ بين شهيقي وبين زفيري

وال يتكسَّر ُ ! هذا عناقي الزّراعي ُّ في ذروة الحبّ. هذا انطالقي إلى العمر.

فاشتبكي يا نباتات ُ واشتركي في انتفاضة جسمي، وعودة حلمي إلى جسدي.ُ

سوف تنفجر ُ األرض ُ حين أُحقّقهذا الصراخ المكبّل َ بالري ّ والخجل القرويّ.

وفي شهر آذار نأتي إلى هوس الذكريات، وتنمو علينا النباتات ُ صاعدة ً في اتّجاهات كل ّ البدايات. هذا نمو ُّ التداعي. أُسمّي

ُ صعودي إلى الزنزلخت التداعي. رأيت ُ فتاة ً على شاطئ البحر قبل ثالثين عاما ً وقلتُ: أنا الموجُ، فابتعدت ْ في التداعي. رأيت

شهيدين يستمعان إلى البحر: عكّا تجئ مع الموج.

عكّا تروح مع الموج. وابتعدا في التداعي.

ومالت خديجة ُ نحو الندى، فاحترقتُ. خديجةُ! ال تغلقي الباب!

إن َّ الشعوب ستدخل ُ هذا الكتاب وتأفل شمس ُ أريحا بدون ِ طقوس.

فيا وَطَن َ األنبياء...تكاملْ!

ويا وطن الزارعين .. تكاملْ!

ويا وطن الشهداء.. . تكامل!

ويا وطن الضائعين .. تكامل!

فكل ُّ شعاب الجبال امتداد ٌ لهذا النشيد.

وكل ُّ األناشيد فيك امتداد ٌ لزيتونة ٍ زمَّلتني.

 

 

 

 

 

 

 

وال يتكسَّر ُ ! هذا عناقي الزّراعي ُّ في ذروة الحبّ. هذا انطالقي إلى العمر.

فاشتبكي يا نباتات ُ واشتركي في انتفاضة جسمي، وعودة حلمي إلى جسدي.ُ

سوف تنفجر ُ األرض ُ حين أُحقّقهذا الصراخ المكبّل َ بالري ّ والخجل القرويّ.

وفي شهر آذار نأتي إلى هوس الذكريات، وتنمو علينا النباتات ُ صاعدة ً في اتّجاهات كل ّ البدايات. هذا نمو ُّ التداعي. أُسمّي

ُ صعودي إلى الزنزلخت التداعي. رأيت ُ فتاة ً على شاطئ البحر قبل ثالثين عاما ً وقلتُ: أنا الموجُ، فابتعدت ْ في التداعي. رأيت

شهيدين يستمعان إلى البحر: عكّا تجئ مع الموج.

عكّا تروح مع الموج. وابتعدا في التداعي.

ومالت خديجة ُ نحو الندى، فاحترقتُ. خديجةُ! ال تغلقي الباب!

إن َّ الشعوب ستدخل ُ هذا الكتاب وتأفل شمس ُ أريحا بدون ِ طقوس.

فيا وَطَن َ األنبياء...تكاملْ!

ويا وطن الزارعين .. تكاملْ!

ويا وطن الشهداء.. . تكامل!

ويا وطن الضائعين .. تكامل!

فكل ُّ شعاب الجبال امتداد ٌ لهذا النشيد.

وكل ُّ األناشيد فيك امتداد ٌ لزيتونة ٍ زمَّلتني.

-10-ْ

مساء ٌ صغير ٌ على قرية ٍ مُهملهْ

وعيناك نائمتانً

أعود ُ ثالثين عاما

وخمس َ حروبُ

ْ وأشهدأن ّ الزمانْ

يخبّئ لي سنبله

يغنّي المغنّي

عن النار والغرباء

وكان المساء ُ مساء

وكان المغنّي يُغَنّي

ويستجوبونه:

لماذا تغنّي؟

مساء ٌ صغير ٌ على قرية ٍ مُهملهْ

وعيناك نائمتانً

أعود ُ ثالثين عاما

وخمس َ حروبُ

ْ وأشهدأن ّ الزمانْ

يخبّئ لي سنبله

يغنّي المغنّي

عن النار والغرباء

وكان المساء ُ مساء

وكان المغنّي يُغَنّي

ويستجوبونه:

لماذا تغنّي؟

ألنّي أغَنّيُ

وقد فتّشوا صدرَهْ

فلم يجدوا غير قلبهْ

وقد فتّشوا قلبَهْ

فلم يجدوا غير شعبهُ

وقد فتشوا صوتَه

ْ فلم يجدواغير حزنهُ

وقد فتّشوا حزنَهْ

فلم يجدوا غير سجنهُ

وقد فتَّشوا سجنَه

فلم يجدوا غيرهم في القيود

وراء التّاللً

ينام ُ المغنّي وحيدا

وفي شهر آذار

تصعد ُ منه الظالل

 

ألنّي أغَنّيُ

وقد فتّشوا صدرَهْ

فلم يجدوا غير قلبهْ

وقد فتّشوا قلبَهْ

فلم يجدوا غير شعبهُ

وقد فتشوا صوتَه

ْ فلم يجدواغير حزنهُ

وقد فتّشوا حزنَهْ

فلم يجدوا غير سجنهُ

وقد فتَّشوا سجنَه

فلم يجدوا غيرهم في القيود

وراء التّاللً

ينام ُ المغنّي وحيدا

وفي شهر آذار

تصعد ُ منه الظالل

-11-ُ

أنا األمل ُ والسهل ُ والرحب–ِقالت لي األرض ُ والعشب ُ

 

هذا احتمال ُ الذهاب إلى العمر خلف خديجة. لم يزرعوني لكي يحصدونيَ

يريد الهواء الجليلي ُّ أن يتكلّم عنّي، فينعس ُ عند خديجة

يريد الغزال الجليلي ّ أن يهدم اليوم سجني، فيحرس ُ ظل ّ خديجة َ وهي تميل ُ على نارها.

يا خديجةُ! إنّي رأيت ُ .. وصدّقت ُ رؤياي تأخذني في مداها وتأخذني في هواها.أنا العاشق األبديُّ، السجين البديهيّ. يقتبس

البرتقال ُ اخضراري ويصبح ُ هاجس َ يافاَ

أنا األرض ُ منذ عرفت ُ خديجة

لم يعرفوني لكي يقتلونيَ

بوسع النبات الجليلي ّ أن يترعرع بين أصابع كفّي ويرسم هذا المكان الموزّع َ بين اجتهادي وحب ّ خديجة

ِ هذا احتمال الذهاب الجديد إلىالعمر من شهر آذار حتّى رحيل الهواء عن األرض

هذا التراب ُ ترابي

وهذا السحاب ُ سحابيْ

وهذا جبين خديجهُّ

أنا العاشق ُ األبدي–ُّالسجين ُ البديهي

رائحة ُ األرض تُوقظني في الصباح المبكّر..

قيدي الحديدي ُّ يوقظها في المساء المبكّر

هذا احتمال الذهاب ِ الجديد إلىالعمر،

ال يسأل الذاهبون إلى العمر عن عمرهمْ

يسألون عن األرض: هل نَهَضَت

طفلتي األرضَ!

هل عرفوك لكي يذبحوكِ؟

وهل قيّدوك بأحالمنا فانحدرت ِ إلى جرحنا في الشتاء؟

وهل عرفوك ِ لكي يذبحوكِ؟

وهل قيّدوك ِ بأحالمهم فارتفعت ِ إلى حلمنا في الربيعْ؟

أنا األرضُ..

يا أيّهاالذاهبون إلى حبّة القمح في مهدها

احرثوا جَسَدي!

أيّها الذاهبون إلى جبل ِ النار

مُرّوا على جسدي

أيّها الذاهبون إلى صخرة القدس

مُرّوا على جسدي

أيّها العابرون على جسدي

لن تمرّواٍ

أنا األرض ُ في جَسَد

لن تمروا

أنا األرض في صحوها

لن تمروا

أنا األرض. يا أيّها العابرون على األرض في صحوها

لن تمروا

لن تمروا

لن تمروا !

محمود درويش