segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Cólera e Tristeza - Mahmoud Darwish

 


Cólera e Tristeza

 

A aldeia em ruínas

como um espantalho

a terra rachada

e os troncos de vossas oliveiras

como ninhos de coruja ou de corvos

quem preparou este ano a carreta?

quem trabalhou a terra?

tu! onde está teu irmão... onde teu pai

miragens

de onde vens? de uma muralha?

ou acaso das nuvens?

velas pela dignidade dos mortos?

ou fechas tua porta ao cair da noite?

por que não te sublevas

desde o momento em que a carne do pai

está crucificada

sobre as botas da noite

 

tu a amas?

eu a amei antes de ti

e tremi em suas margens escuras

era bela

mas dançou sobre minha tumba

tu e eu

pedimos satisfações à história

à bandeira que perdeu sua virilidade

quem somos?

deixa que a pressa das ruas

beba na indignidade de nosso estandarte assassinado

por que não te rebelas

quando ela estende seus braços aos outros

e seus seios

 

temos suportado a tristeza durante anos

e o sol não tem nascido

a tristeza é um fogo que o tempo consome

e que o vento desperta

e como domarás o vento

sem armas

exceto a coalizão de vento e fogo

numa pátria violada.

 

Mahmoud Darwish

 

Em: “Folhas de oliveira” (1964


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