I
Na última noite
nesta terra
Na última noite nesta terra, arrancamos os dias
das pequenas árvores, e contamos as costelas que
levaremos junto
e aquelas que deixaremos aqui, na última noite
não diremos adeus, não teremos tempo para acabar.
Tudo ficará como está, já que o lugar trocará os
nossos sonhos
e trocará os nossos hóspedes. De uma hora para
outra, não saberemos mais brincar
porque o lugar estará pronto para receber a
poeira... Aqui, na última noite,
contemplamos as montanhas rodeadas de nuvens: a
conquista... a reconquista
o tempo antigo a entregar ao tempo novo as chaves
dos portões.
Entrem, senhores conquistadores, entrem nas
nossas casas, bebam do vinho
das nossas doces “muachahat”. Seremos a noite e,
finda a meia-noite,
já não haverá mais auroras levadas em dorso de
cavalo, ouvido o último muezim.
O nosso chá é verde, é quente, bebam, o amendoim
é fresco, comam,
as camas são verdes, a madeira é de cedro,
entreguem-se ao sono
depois de tão longo cerco, durmam nas plumas dos
nossos sonhos,
os lençóis estão estendidos, os perfumes esperam
por vocês à porta, há muitos espelhos, entrem, nós vamos sair de vez, e vamos
depois procurar saber
como era a nossa história frente à história de
vocês na longínqua terra,
vamos nos perguntar por fim: onde era o Alandalus
aqui ou lá? nesta terra ou no poema?
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