INVENTÁRIO DE DOMINGO
No domingo pastoso e lento
há um relógio realejo
redondo como um bocejo
que rói o tempo e o pensamento.
Há o bairro puído e humilhado,
há sempre o disco usado na vitrola
e há uma lágrima que rola
entre o presente e o passado.
E há a chuva, que prevê o calendário,
e há o tédio, e há a monotonia
banal na sua geometria
que vai da gaiola ao aquário.
E há o amor, um amor assim-assim,
burguês, dominical e burocrático
que seria alegre se não fosse um folhetim.
E há pessoas ancoradas nos salões
horas e horas com olhar fixo e duro
para que os olhos da crianças do futuro
sejam retangulares como televisões.
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