quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

RECUSO-ME - João Apolinário

RECUSO-ME

 

Recuso-me a ficar amolecido

Tragicamente cilindrado

E muito antes de lutar - vencido

E muito antes de morrer - violado.

Recuso-me ao silêncio e à mordaça

Serei independente, livre e exacto

A verdade é uma força que ultrapassa

A própria dimensão em que combato.

Recuso-me a servir a violência

Embora a minha voz de nada valha

Mas que me fique ao menos a consciência

De que tentei romper esta muralha.

Recuso-me a ter medo e a estiolar

Na concha dos poetas sem mensagem

Que me levem o corpo e a coragem

Mas que fique esta voz para cantar.

 

João Apolinário

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