quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Oliver Anthony - Rich Men North Of Richmond

 Bom sinal!

Voltam as canções de protesto
 

Rich Men North of Richmond

 

Well, I've been selling my soul
Working all day
Overtime hours
For bullshit pay

So I can sit out here
And waste my life away
Drag back home
And drown my troubles away

It's a damn shame
What the world's gotten to
For people like me
And people like you
Wish I could just wake up
And it not be true
But it is
Oh, it is

Livin' in the new world
With an old soul
These rich men north of Richmond
Lord, knows they all
Just wanna have total control
Wanna know what you think
Wanna know what you do
And they don't think you know
But I know that you do

'Cause your dollar ain't shit
And it's taxed to no end
'Cause of rich men
North of Richmond

I wish politicians
Would look out for miners
And not just miners on an island somewhere

Lord, we got folks in the street
Ain't got nothin' to eat
And the obese milkin' welfare

But God if you're five foot three
And you're three hundred pounds
Taxes ought not to pay
For your bags of fudge rounds

Young men are putting themselves
Six feet in the ground
'Cause all this damn country does
Is keep on kicking them down

Lord, it's a damn shame
What the world's gotten to
For people like me
And people like you
Wish I could just wake up
And it not be true
But it is
Oh, it is

Livin' in the new world
With an old soul
These rich men north of Richmond
Lord, knows they all
Just wanna have total control
Wanna know what you think
Wanna know what you do
And they don't think you know
But I know that you do

'Cause your dollar ain't shit
And it's taxed to no end
'Cause of rich men
North of Richmond

I've been selling my soul
Working all day
Overtime hours
For bullshit pay

 

Oliver Anthony

 

Rich Men North of Richmond

Canção

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Letras

Bem, eu tenho vendido minha alma
Well, I've been selling my soul

Trabalhando o dia todo
Working all day

Horas extras
Overtime hours

Por merda de pagamento
For bullshit pay

Então eu posso sentar aqui
So I can sit out here

E desperdiçar minha vida
And waste my life away

Arraste de volta para casa
Drag back home

E afogar meus problemas
And drown my troubles away

É uma pena
It's a damn shame

O que o mundo chegou
What the world's gotten to

Para pessoas como eu
For people like me

E pessoas como você
And people like you

Queria poder simplesmente acordar
Wish I could just wake up

E não é verdade
And it not be true

Mas isso é
But it is

Ah, é
Oh, it is

Vivendo no novo mundo
Livin' in the new world

Com uma alma velha
With an old soul

Esses homens ricos ao norte de Richmond
These rich men north of Richmond

Senhor, conhece todos eles
Lord, knows they all

Só quero ter controle total
Just wanna have total control

Quero saber o que você pensa
Wanna know what you think

Quero saber o que você faz
Wanna know what you do

E eles não acham que você sabe
And they don't think you know

Mas eu sei que você faz
But I know that you do

Porque seu dólar não é uma merda
'Cause your dollar ain't shit

E é tributado sem fim
And it's taxed to no end

'Por causa dos homens ricos
'Cause of rich men

Norte de Richmond
North of Richmond

Desejo aos políticos
I wish politicians

Cuidaria dos mineiros
Would look out for miners

E não apenas mineiros em uma ilha em algum lugar
And not just miners on an island somewhere

Senhor, temos gente na rua
Lord, we got folks in the street

Não tenho nada para comer
Ain't got nothin' to eat

E o bem-estar obeso ordenhando
And the obese milkin' welfare

Mas Deus, se você tem um metro e setenta e três
But God if you're five foot three

E você tem trezentas libras
And you're three hundred pounds

Impostos não deveriam pagar
Taxes ought not to pay

Para seus sacos de balas de chocolate
For your bags of fudge rounds

Os jovens estão se colocando
Young men are putting themselves

Seis pés no chão
Six feet in the ground

Porque tudo que esse maldito país faz
'Cause all this damn country does

É continuar chutando-os para baixo
Is keep on kicking them down

Senhor, é uma pena
Lord, it's a damn shame

O que o mundo chegou
What the world's gotten to

Para pessoas como eu
For people like me

E pessoas como você
And people like you

Queria poder simplesmente acordar
Wish I could just wake up

E não é verdade
And it not be true

Mas isso é
But it is

Ah, é
Oh, it is

Vivendo no novo mundo
Livin' in the new world

Com uma alma velha
With an old soul

Esses homens ricos ao norte de Richmond
These rich men north of Richmond

Senhor, conhece todos eles
Lord, knows they all

Só quero ter controle total
Just wanna have total control

Quero saber o que você pensa
Wanna know what you think

Quero saber o que você faz
Wanna know what you do

E eles não acham que você sabe
And they don't think you know

Mas eu sei que você faz
But I know that you do

Porque seu dólar não é uma merda
'Cause your dollar ain't shit

E é tributado sem fim
And it's taxed to no end

'Por causa dos homens ricos
'Cause of rich men

Norte de Richmond
North of Richmond

Eu tenho vendido minha alma
I've been selling my soul

Trabalhando o dia todo
Working all day

Horas extras
Overtime hours

Por merda de pagamento
For bullshit pay

 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

NUMÂNCIA - Murilo Mendes

 

NUMÂNCIA

Prefigurando Guernica
E a resistência espanhola,

Uma coluna mantida
No espaço nulo do outrora.

Fica na paisagem térrea
A dura memória da fome,

Lição que Espanha recebe
No seu sangue, e que a consome.

 Murilo Mendes

 

NUMANCIA

Configurando Guernica
Y la resistência espanola,

Una columna mantenida
En el nulo espacio dei ayer,

Queda en el paisaje térreo
La dura memória dei hambre,

Lección que Espana recibe
En su sangre, y Ia consume.

Murilo Mendes
Tiempo Español
Trad. Pablo del Barco.
 s.l.: Almuzara, 2008. 201 p. (Serie Noche Española, 8)
 Impresso con la colaboración de la Embajada de Brasil en España.

 

 

domingo, 20 de agosto de 2023

Ode a Fernando Pessoa - Roberto Piva

Ode a Fernando Pessoa

Roberto Piva

O rádio toca Stravinsky para homens surdos e eu recomponho na minha imaginação
a tua vida triste passada em Lisboa.
Ó Mestre da plenitude da Vida cavalgada em Emoções,
Eu e meus amigos te saudamos!
Onde estarás sentindo agora?
Eu te chamo do meio da multidão com minha voz arrebatada,
A ti, que és também Caeiro, Reis, Tu-mesmo, mas é como Campos que vou
saudar-te, e sei que não ficarás sentido por isso.
Quero oferecer-te o palpitar dos meus dias e noites,
A ti, que escutaste tudo quanto se passou no universo,
Grande Aventureiro do Desconhecido, o canto que me ensinaste foi de libertação.
Quando leio teus poemas, alastra-se pela minh’alma dentro um comichão de
saudade da Grande Vida,
Da Grande Vida batida de sol dos trópicos,
Da Grande Vida de aventuras marítimas salpicada de crimes,
Da grande vida dos piratas, Césares do Mar Antigo.
Teus poemas são gritos alegras de Posse,
Vibração nascida com o Mundo, diálogos contínuos com a Morte,
Amor feito a força com toda Terra.

Sempre levo teus poemas na alma e todos os meus amigos fazem o mesmo.
Sei que não sofres fisicamente pelos que estão doentes de Saudade, mas de
Madrugada; quando exaustos nos sentamos nas praças, Tu estás connosco,
eu sei disso, e te respiramos na brisa.
Quero que venhas compartilhar connosco as orgias da meia-noite, queremos ser
para ti mais do que para o resto do mundo.
Fernando Pessoa, Grande Mestre, em que direção aponta tua loucura esta noite?
Que paisagens são estas?
Quem são estes descabelados com gestos de bailarinos?

Vamos, o subúrbio da cidade espera nossa aventura,
As meninas já abandonaram o sono das famílias,
Adolescentes iletrados nos esperam nos parques.
Vamos com o vento nas folhagens, pelos planetas,
cavalgando vaga-lumes cegos até o Infinito.
Nós, tenebrosos vagabundos de São Paulo, te ofertamos em turíbulo para uma
bacanal em espuma e fúria.
Quero violar todas as superfícies e todos os homens da superfície,
Vamos viver para além da burguesia triste que domina meu país alegremente
Antropófago.
Todos os desconhecidos se aproximam de nós.
Ah, vamos girar juntos pela cidade, não importa o que faças ou quem sejas,
eu te abraço, vamos!
Alimentar o resto da vida com uma hora de loucura, mandar à merda todos os deveres,
chutar os padres quando passarmos por eles nas ruas, amar os
pederastas pelo simples prazer de traí-los depois,
Amar livremente mulheres, adolescentes, desobedecer integralmente uma ordem
por cumprir, numa orgia insaciável e insaciada de todos os propósitos-Sombra.
Em mim e em Ti todos os ritmos da alma humana, todos os risos, todos os olhares,
todos os passos, os crimes, as fugas, Todos os êxtases sentidos de uma vez,
Todas as vidas vividas num minuto Completo e Eterno,
Eu e Tu, Toda a Vida!
Fernando, vamos ler Kierkegaard e Nietzsche no Jardim Trianon pela manhã,
enquanto as crianças brincam na gangorra ao lado.
Vamos percorrer as vielas do centro aos domingos quando toda a gente decente
dorme, e só adolescentes bêbados e putas encontram-se na noite.
Tu, todas as crianças vivazes e sonolentas,
Carícia obscena que o rapazito de olheiras fez ao companheiro de classe
e o professor não vê;
Tu, o Ampliado, latitude-longitude, Portugal África Brasil Angola Lisboa São
Paulo e o resto do mundo,
Abraçado com Sá-Carneiro pela Rua do Ouro acima,
de mãos dadas com Mário de Andrade no Largo do Arouche.
Tu, o rumor dos planaltos, tumulto do tráfego na hora do rush,
repique dos sinos de São Bento,
hora tristonha do entardecer visto do Viaduto do Chá,
Digo em sussurro teus poemas ao ouvido do Brasil,
adolescente moreno empinando papagaios na América.
Vamos ver a luz da Aurora chispando nas janelas dos edifícios,
escorrendo pelas águas do Amazonas,
batendo em chapa na caatinga nordestina,
debruçando no Corcovado,
Ouçamos a bossa-nova deitados na palma da mão do Cristo
e a batucada vinda diretamente do coração do morro.
Tu, a selvagem inocência nos beijos dos que se amam,
Tu o desengajado, o repentino, o livre.
Agora, vem comigo ao Bar, e beberemos de tudo nunca passando pela caixa,
Vamos ao Brás beber vinho e comer pizza no Lucas,
para depois vomitarmos tudo de cima da ponte,
Vem comigo, eu te mostrarei tudo: o Largo do Arouche à tarde, o Jardim da Luz
pela manhã, veremos os bondes gingando nos trilhos da Avenida,
assaltaremos o Fasano, iremos ver as luzes do Cambuci pelas noites de crime,
onde está a menina-moça violada por nós num dia de Chuva e Tédio,
Não te levarei ao Paissandu para não acordarmos o sexo do Mário de Andrade
(ai de nós se ele desperta!),
Mas vamos respirar a Noite do alto da Serra do Mar:
quero ver as estrelas refletidas
em teus olhos.
Sobre as crianças que dormem, tuas palavras dormem;
eu deles me aproximo e
dou-lhes um beijo familiar na face direita.
Teu canto para mim foi música de redenção,
Para tudo e todos a recíproca atração de Alma e Corpo.
Doce intermediário entre nós e a minha maneira predileta de pecar.
Descartes tomando banho-maria,
penso, logo minto, na cidade futura, industrial e inútil.
Mundo, fruto amadurecido em meus braços arqueados de te embalar,
Resumirei para Ti a minha história:
Venho aos trambolhões pelos séculos,
Encarno todos os fora da lei e todos os desajustados,
Não existe um gangster juvenil preso por roubo e nenhum louco sexual
que eu não acompanhe para ser julgado e condenado;
Desconheço exame de consciência, nunca tive remorsos, sou como um lobo
dissonante nas lonjuras de Deus.
Os que me amam dançam nas sepulturas.
Da vidraça aberta olho as estrelas disseminadas no céu;
onde estás, Mestre Fernando?
Foste levar a desobediência aos aplicados meninos do Jardim América?
Dás um lírio para quem fugir de casa?
Grande indisciplinador, é verdade?

Vamos ao norte amar as coisas divinamente rudes.
Vamos lá, Fernando, dançar maxixe na Bahia e beber cerveja
até cair com um baque surdo no centro da Cidade Baixa.
Sabes que há mais vida num beco da Bahia
ou num morro carioca do que em toda São Paulo?
São Paulo, cidade minha, até quando serás o convento do Brasil?
Até teus comunistas são mais puritanos do que padres.
Pardos burocratas de São Paulo, vamos fugir para as praias?
Ó cidade das sempiternas mesmices, quando te racharás ao meio?
Quero cuspir no olho do teu Governador
e queimar os troncos medrosos da floresta humana.
Ó Faculdade de Direito, antro de cavalgaduras eloquentes da masturbação transferida!
Ó mocidade sufocada nas Igrejas, vamos ao ar puro das manhãs de setembro!
Ó maior parque industrial do Brasil, quando limparei minha bunda em ti?
Fornalha do meu Tédio transbordando até o Espasmo.
Horda de bugres galopando a minha raiva!
Sei que não há horizontes para a minha inquietação sem nexo,
Não me limitem, mercadores!
Quero estar livre no meio do Dilúvio!
Quero beber todos os delírios e todas as loucuras,
mais profundamente que qualquer Deus!
Põe-te daqui para fora, policiamento familiar da alma dos fortes:
eu quero ser como um raio para vós!
Violência sincopada de todos os “boxeurs”!
Brasileira do Chiado em dias de porre de absinto.
Arcabouço de todas as náuseas da vida levada em carícias de Infinito.
Tudo dói na tua alma, Nando, tudo te penetra,
e eu sinto contigo o íntimo tédio de tudo.
Realizarei todos os teus poemas,
imaginando como eu seria feliz se pudesse estar contigo
e ser tua Sombra.

Roberto Piva


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

MEU POEMA PARA A MESTIÇA - António Cardoso

 

MEU POEMA PARA A MESTIÇA

 

Este é o meu poema para a mulata

Sem palavras exóticas, ou não:

“Mulata flor do vício e do prazer,

Mulata crime e maldição”...

Isso é tema cansado

De poeta de açoite

E colonialismo pela mão...

Desalienado,

Quero-te na dimensão

De mulher, esposa, mãe, filha, amada,

Numa humana condição

António Cardoso

 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Capitães de Abril - Rui Namorado

 

Capitães de Abril

               

Capitães de um futuro incendiado

esculpiram num só dia o coração

das largas avenidas que hão de vir

 

O povo semeou-se pelas ruas

gritando em vermelho um cravo imenso

com asas que voaram pensamento

 

Em todo o horizonte ficou escrito

um sonho que perdeu o seu limite

já  pétala de luz   deslumbramento

 

Capitães inventados em Abril

o povo atravessou-os como um rio

com a paixão mais justa e vertical

 

 Rui Namorado

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Culpados - Aldo Luis Novelli

 

Culpados

 

O mundo está destruído

e eu descobri os culpados.

 

Os culpados são vocês

sim vocês/ poetas/ ou o que é pior: leitores de poesia/

não me olhem com essa expressão violenta nos olhos

já há demasiada violência no mundo/

sejam compreensivos por um momento

ponham de parte essa excelsa vaidade de artista.

 

Vocês escreveram tantas palavras de amor

criaram tantos campos verdes cobertos de flores

plenos de incontáveis sóis/

que o mundo ficou cinzento

fumegante de metralha e morte

desequilibrado de poder e ambição.

 

Vamos poetas!

tomemos conta da parte que nos toca/

nessas incontáveis ​​noites em que falamos com deus

não o avisamos de nada

até o distraímos com as nossas dúvidas existenciais/

enquanto eles

sem parar e com esmero

construíam a maquinaria infernal

que destruiria o mundo.

 

Aldo Luis Novelli

 

 

Culpables

 

El mundo está destruido

y yo he descubierto a los culpables.

 

Los culpables son ustedes

sí ustedes/ poetas/ o lo que es peor: lectores de poesía/

no me miren con esa expresión violenta en los ojos

ya hay demasiada violencia en el mundo/

sean comprensivos por un momento

dejen esa excelsa vanidad de artista a un lado.

 

Ustedes escribieron tantas palabras de amor

crearon tantos campos verdes avasallados de flores

extasiados de incontables soles/

que el mundo se tornó gris

humeante de metralla y muerte

desquiciado de poder y ambición.

 

¡Vamos poetas!

hagámonos cargo de la parte que nos toca/

esas incontables noches que hablamos con dios

no le avisamos nada

hasta lo distrajimos con muestras dudas existenciales/

mientras ellos

sin pausa y con esmero

construían la maquinaria infernal

que destruiría el mundo.

 

 

 

domingo, 13 de agosto de 2023

A vitória de Guernica _ Paul Eluard

 

A vitória de Guernica

5.

Fizeram-vos pagar o pão

O céu a terra a água o sono

E a miséria

Da vossa vida

 

Paul Eluard

Tornou-se mundialmente conhecido como O Poeta da Liberdade.

V
Ils vous ont fait payer le pain
Le ciel la terre l'eau le sommeil
Et la misère
De votre vie

Algumas das Palavras, organização e prefácio de António Ramos Rosa, tradução de António Ramos Rosa e Luísa [sic] Neto Jorge, Lisboa: D. Quixote, 2ª edição, 1977, p. 75.

 

 

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Neste desterro - Paulino de Oliveira

 

Paulino de Oliveira retratado por Tomás Leal da Câmara

«Quare de vulva eduxisti me?»

Por que você me tirou do ventre?


Neste desterro


Como Job, eu misérrimo, pergunto:
"Para que fui criado?" e o céu e o vento
Que escutam o meu grito
Não me respondem nada sobre o assunto

Se não vimos ao mundo por querer
Porque é que antes de sermos nos culpados
Arrastamos os ferros de forçados
E nos esmaga a mó do atroz Sofrer?

Quando a Dor me tritura, aguda e forte,
Eu penso na justiça desta Sorte
E na razão desse bom Deus amado...

E medito: se outrora, em outro Mundo
Eu habitei o corpo vagabundo
De algum enorme triste celerado.

 

Paulino de Oliveira
in Poemas de Francisco Paulino Gomes de Oliveira, Edições «Descobrimento» 1932


 

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Cimarrones - Nancy Morejón

 

Cimarrones

Quando olho para trás
e vejo tantos negros
quando olho para cima
ou para baixo
e os que vejo são negros
que alegria ver tantos de nós

quantos;

e por aí nos chamam de ‘minoria’
e no entanto
ainda nos vejo
É isso o que dignifica nossa luta
sair pelo mundo e ainda nos ver,
em Universidades e Favelas,
em Metros e Arranha-céus,
entre viradas e mutações
varrendo merda
parindo versos.

Nancy Morejón

1.  Cimarrón é, em alguns países da América Hispânica, a designação para descendentes de africanos e africanas que resistiram ao domínio colonial espanhol e à escravidão, construindo assentamentos e comunidades independentes em regiões afastadas de onde eram escravizados. Hoje, a palavra segue sendo usada por ativistas negras/os que reivindicam essa história de resistência.

domingo, 6 de agosto de 2023

Oh! Bendito o que semeia Livros… - Castro Alves

 

Oh! Bendito o que semeia Livros…

 

Oh! Bendito o que semeia

Livros… livros à mão cheia…

E manda o povo pensar!

O livro caindo n’alma

É germe — que faz a palma,

É chuva — que faz o mar.                 

 

CASTRO ALVES

“O Livro e a América”

 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

EM NOME DO POVO - Sandor Petöfi



EM NOME DO POVO (1847)

 

O povo ainda pede, dai-lhe agora!

Não sabeis como é terrível quando se revolta,

Quando em vez de pedir agarra e arrebata?

Não ouvisteis falar de György Dózsa?

Foi sentado por vós num trono de ferro em brasa,

Mas não queimou o seu espírito esse fogo

Pois era o próprio fogo. Cuidado,

Aquelas línguas podem devorar-vos!

Outrora o povo só reclamava comida.

Era ainda animal, um animal que por fim

Se converteu em homem. E ao homem como homem

Correspondem direitos. Direitos, sim,

Direitos do homem para o povo! Não os ter

É para os filhos de Deus o pior estigma.

E quem lhes impuser esse sinal

Não poderá evitar o castigo divino.

Por que sois vós privilegiados?

Por que está o direito do vosso lado?

Os vossos pais conquistaram a pátria,

Mas o suor do povo escorre nela.

De que serve dizer: está aqui a mina

Se não há mãos para escavar o solo

Até que surja brilhando o filão de ouro…

E estas mãos não têm nenhum mérito?

Vós que repetisteis orgulhosos:

É nossa a pátria, nosso o direito!

Que coisa farieis com a pátria,

Se de repente o inimigo a atacasse?

Mas que pergunta! Mil desculpas,

Já me esquecia do feito de Györ!

Quando erguereis um monumento

A tantos pés heroicos que fugiram?

Ao povo os seus direitos! Em nome

Da humanidade grandiosa e sacra

Dai-lhe direitos! E também em nome

Da pátria, que cairá sem um apoio novo.

A vós pertence a rosa da Constituição

E ao povo lançasteis os espinhos.

Dai-lhe algumas das pétalas, algumas,

Guardai ao menos metade dos espinhos!

O povo ainda pede, dai-lhe agora!

Não sabeis como é terrível quando se revolta,

Quando em vez de pedir agarra e arrebata?

Não ouvisteis falar de György Dózsa?

Foi sentado por vós num trono de ferro em brasa,

Mas não queimou o seu espírito esse fogo

Pois era o próprio fogo. Cuidado,

Aquelas línguas podem devorar-vos!

 

Sandor Petöfi.

(traduzido por Yvette K. Centeno)