quinta-feira, 3 de agosto de 2023

EM NOME DO POVO - Sandor Petöfi



EM NOME DO POVO (1847)

 

O povo ainda pede, dai-lhe agora!

Não sabeis como é terrível quando se revolta,

Quando em vez de pedir agarra e arrebata?

Não ouvisteis falar de György Dózsa?

Foi sentado por vós num trono de ferro em brasa,

Mas não queimou o seu espírito esse fogo

Pois era o próprio fogo. Cuidado,

Aquelas línguas podem devorar-vos!

Outrora o povo só reclamava comida.

Era ainda animal, um animal que por fim

Se converteu em homem. E ao homem como homem

Correspondem direitos. Direitos, sim,

Direitos do homem para o povo! Não os ter

É para os filhos de Deus o pior estigma.

E quem lhes impuser esse sinal

Não poderá evitar o castigo divino.

Por que sois vós privilegiados?

Por que está o direito do vosso lado?

Os vossos pais conquistaram a pátria,

Mas o suor do povo escorre nela.

De que serve dizer: está aqui a mina

Se não há mãos para escavar o solo

Até que surja brilhando o filão de ouro…

E estas mãos não têm nenhum mérito?

Vós que repetisteis orgulhosos:

É nossa a pátria, nosso o direito!

Que coisa farieis com a pátria,

Se de repente o inimigo a atacasse?

Mas que pergunta! Mil desculpas,

Já me esquecia do feito de Györ!

Quando erguereis um monumento

A tantos pés heroicos que fugiram?

Ao povo os seus direitos! Em nome

Da humanidade grandiosa e sacra

Dai-lhe direitos! E também em nome

Da pátria, que cairá sem um apoio novo.

A vós pertence a rosa da Constituição

E ao povo lançasteis os espinhos.

Dai-lhe algumas das pétalas, algumas,

Guardai ao menos metade dos espinhos!

O povo ainda pede, dai-lhe agora!

Não sabeis como é terrível quando se revolta,

Quando em vez de pedir agarra e arrebata?

Não ouvisteis falar de György Dózsa?

Foi sentado por vós num trono de ferro em brasa,

Mas não queimou o seu espírito esse fogo

Pois era o próprio fogo. Cuidado,

Aquelas línguas podem devorar-vos!

 

Sandor Petöfi.

(traduzido por Yvette K. Centeno)

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