sábado, 17 de dezembro de 2011

Guia para candidatos aos infernos

Candidatos coléricos


Nós, os coléricos, temos a nossa própria honra.
Sempre levámos a sério as ameaças dos livros sagrados.
Sempre acreditámos que a cólera decidiria deste nosso lugar.
Escolhemos,
apesar disso, a grande recusa, dispostos a tudo.
Ou foi ela a escolher-nos, dá no mesmo.
Mostrámos aos
doutores de todas as igrejas que desprezávamos as suas ameaças.
Mostrámos aos
donos do mundo o teor da nossa justa fúria.
Mostrámos aos
timoratos que o medo é curável.
Mostrámos ao
nosso medo que não o tememos.
Nenhum de nós aqui tem medo. Medo de quê?
Dos
homens de cornos e olhos de mocho?
Dos
grandes lagartos de línguas longas?
Dos
que têm enguias e cobras na boca?
Dos
que têm lábios de patas de polvo?
Do
dragões que vomitam fogo?
Dos
venenos? Dos monstros?
A
nossa cólera foi a nossa força.

Almeida Faria

sábado, 26 de novembro de 2011

Bourdonnement - RHODINE

Zumbido

Eu tenho

Tu tens

Ele tem

Nós temos

Vós tendes – Eles roubam

Eu acaricio

Tu acaricias

Ele acaricia

Nós acariciamos

Vós acariciais – eles batem

Eu ando

Tu andas

Ele anda

Nós andamos

Vós andais – eles esmagam

Eu falo

Tu falas

Ele fala

Nós falamos

Vós falais – Eles ordenam

Eu abraço-te

Tu abraças-me

Ele abraça-me

Nós abraçamos-nos

Vós abraçais-vos – Eles estrangulam-nos

Eu contemplo

Tu contemplas

Ele contempla

Nós contemplamos

Vós contemplais – Eles vigiam

Eu amo-te

Tu amas-me

Ele ama-me

Nós amamos-nos

Vós amai-vos – Eles violam

Eu vivo

Tu vives

Ele vive

Nós vivemos

Vós viveis – Eles matam

Eu revolto-me

Tu revoltas-te

Ele revolta-se

Nós revoltamos-nos

Vós revoltais-vos

ELES DESAPARESSEM!

RHODINE

Bourdonnement

Je possède
Tu possèdes
Il possède
Nous possédons
Vous possédez - Ils volent

Je caresse
Tu caresses
Il caresse
Nous caressons
Vous caressez - Ils frappent

Je marche
Tu marches
Il marche
Nous marchons
Vous marchez - Ils écrasent

Je parle
Tu parles
Il parle
Nous parlons
Vous parlez - Ils ordonnent

Je t'embrasse
Tu m'embrasses
Il t'embrasse
Nous nous embrassons
Vous vous embrassez - Ils étranglent

Je contemple
Tu contemples
Il contemple
Nous contemplons
Vous contemplez – Ils surveillent

Je t'aime
Tu m'aimes
Il t'aime
Nous nous aimons
Vous vous aimez - Ils violent

Je vis
Tu vis
Il vit
Nous vivons
Vous vivez - Ils tuent

Je me révolte
Tu te révoltes
Il se révolte
Nous nous révoltons
Vous vous révoltez
ILS DISPARAISSENT !

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Álvaro Cunhal

Álvaro Cunhal

10-11-1913


Partido Comunista Português

Partido Revolucionário

com um colectivo coeso e interveniente

militantes que deram e continuam a dar prova das suas responsabilidades nos momentos mais difíceis

sob os constantes ataques ideológicos mantém bem alta a bandeira do marxismo-leninismo.

é a voz e a força dos que trabalham e exigem justiça e dignidade tendo como objectivo o Socialismo.

Imprime a dinâmica às lutas dos trabalhadores e é o rosto dos que não se deixam abater pelo desespero

FESTEJAMOS O TEU ANIVERSÁRIO LUTANDO


A luta vai continuar!



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Antes que Seja Tarde

Antes que Seja Tarde

Antes que Seja Tarde Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e
falas de coisas mansas como o luar
e
paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as
margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse
país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de
barco ao deus-dará
e
esse ar de renúncia
às
coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa
paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os
olhos e olha,
abre os
braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de
vez para a vida.


Manuel da Fonseca, in "
Poemas Dispersos"

sábado, 17 de setembro de 2011

Comuna decretos



O susto foi tão grande que, ainda hoje, o facto de pronunciar o vocábulocomunacausa um profundo mal-estar aos açougueiros que governam o mundo.

Razão para divulgar este decreto de 1871 e aproveitar para lembrar a manifestação convocada para o dia 1 de Outubro.

Comuna decretos

Decretos da Comuna de Paris de 1871

Artigo I. As velhas autoridades de tutela, criadas para oprimir o povo de Paris, são abolidas, tais como: comando da polícia, governo civil, câmaras e conselho municipal. E as suas múltiplas ramificações: comissariados, esquadras, juízes de paz, tribunais etc. são igualmente dissolvidas.

Artigo II. A comuna proclama que dois princípios governarão os assuntos municipais: a gestão popular de todos os meios de vida colectiva; a gratuidade de tudo o que é necessário e de todos os serviços públicos.

Artigo III. O poder será exercido pelos conselhos de bairro eleitos. São eleitores e elegíveis para estes conselhos de bairro todas as pessoas que nele habitem e que tenham mais de 16 anos de idade.

Artigo IV. Sobre o problema da habitação, tomam-se as seguintes medidas: expropriação geral dos solos e sua colocação à disposição comum; requisição das residências secundárias e dos apartamentos ocupados parcialmente; são proibidas as profissões de promotores, agentes de imóveis e outros exploradores da miséria geral; os serviços populares de habitação trabalharão com a finalidade de restituir verdadeiramente à população parisiense o carácter trabalhador e popular.

Artigo V. Sobre os transportes, tomam-se as seguintes medidas: os ônibus, os trens suburbanos e outros meios de transporte público são gratuitos e de livre utilização; o uso de veículos particulares é proibido em toda a zona parisiense, com exceção dos veículos de bombeiros, ambulâncias e de serviço à domicílio; a Comuna põe à disposição dos habitantes de Paris um milhão de bicicletas cuja utilização é livre, mas não poderão sair da zona parisiense e de seus arredores.

Artigo VI. Sobre os serviços sociais, tomam-se as seguintes medidas: todos os serviços ficam sob controle das juntas populares de bairro e serão geridos em condições paritárias pelos habitantes de bairro e os trabalhadores destes serviços; as visitas médicas, consultas e assistência médica e medicamentos serão gratuitos.

Artigo VII. A Comuna proclama a anistia geral e a abolição da pena de morte e declara que a sua acção se baseia nos seguintes princípios: dissolução da polícia municipal, dita polícia parisiense; dissolução dos tribunais e tribunais superiores; transformação do Palácio da Justiça, situado no centro da cidade, num vasto recinto de atracção e de divertimento para crianças de todas as idades; em cada bairro de Paris é criada uma milícia popular composta por todos os cidadãos, homens e mulheres, de idade superior a 15 anos e inferior a 60 anos, que habitem o bairro; são abolidos todos os casos de delitos de opinião, de imprensa e as diversas formas de censura: política, moral, religiosa etc; Paris é proclamada terra de asilo e aberta a todos os revolucionários estrangeiros, expulsos [de suas terras] pelas suas idéias e acções.

Artigo VIII. Sobre o urbanismo de Paris e arredores, consideravelmente simplificado pelas medidas precedentes, tomam-se as seguintes decisões: proibição de todas as operações de destruição de Paris: vias rápidas, parques subterrâneos etc; criação de serviços populares encarregados de embelezar a cidade, fazendo e mantendo canteiros de flores em todos os locais onde a estupidez levou à solidão, à desolação e ao inabitável; o uso doméstico (não industrial nem comercial) da água, da eletricidade e do telefone é assegurado gratuitamente em cada domicílio; os contadores são suprimidos e os empregados são colocados em atividades mais úteis.

Artigo IX. Sobre a produção, a Comuna proclama que: todas as empresas privadas (fábricas, grandes armazéns) são expropriadas e os seus bens entregues à colectividade; os trabalhadores que exercem tarefas predominantemente intelectuais (direção, gestão, planificação, investigação etc.) periodicamente serão obrigados a desempenhar tarefas manuais; todas as unidades de produção são administradas pelos trabalhadores em geral e diretamente pelos trabalhadores da empresa, em relação à organização do trabalho e distribuição de tarefas; fica abolida a organização hierárquica da produção; as diferentes categorias de trabalhadores devem desaparecer e desenvolver-se a rotatividade dos cargos de trabalho; a nova organização da produção tenderá a assegurar a gratuidade máxima de tudo o que é necessário e diminuir o tempo de trabalho. Devem-se combater os gastadores e parasitas. Desde são suprimidas as funções de contramestre, cronometrista e supervisor.

Artigo X. Os trabalhadores com mais de 55 anos que desejem reduzir ou suspender sua atividade profissional têm direito a receber integralmente os seus meios de existência. Este limite de idade será menor em relação a trabalhos particularmente custosos.

Artigo XI. É abolida a escolavelha”. As crianças devem sentir-se como em sua casa, aberta para a cidade e para a vida. A sua única função é a de torná-las felizes e criadoras. As crianças decidem a sua arquitetura, o seu horário de trabalho e o que desejam aprender. O professor antigo deixa de existir: ninguém fica com o monopólio da educação, pois ela não é concebida como transmissão do saber livresco, mas como transmissão das capacidades profissionais de cada um.

Artigo XII. A submissão das crianças e da mulher à autoridade do pai, que prepara a submissão de cada um à autoridade do chefe, é declarada morta. O casal constitui-se livremente com o único fim de buscar o prazer comum. A Comuna proclama a liberdade de nascimento: o direito de informação sexual desde a infância, o direito do aborto, o direito à anti-concepção. As crianças deixam de ser propriedades de seus pais. Passam a viver em conjunto na sua casa (a Escola) e dirigem sua própria vida.

Artigo XIII. A Comuna decreta: todos os bens de consumo, cuja produção em massa possa ser realizada imediatamente, são distribuídos gratuitamente; são postos à disposição de todos nos mercados da Comuna.

Extraído da Introdução do livro Escritos sobre a Comuna de Paris

Seleção e tradução de Osvaldo Coggiola (professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo e militante no Associação Nacional dos Docentes do Ensino SuperiorSindicato Nacional, ANDES-SN