sábado, 22 de maio de 2010

Konstantinus Kavafis

UM VELHO

No meio do café barulhento, debruçado
sobre a mesa, um velho está sentado;
com um jornal à sua frente, sem companhia

E no desdém de sua velhice mísera de agora
pensa quão pouco aproveitou os anos de outrora
em que tinha fluência, e beleza, e energia.

Percebe que envelheceu muito; sente, conhece.
E
contudo o tempo em que era jovem lhe parece
ontem. Como o tempo passa, como o tempo passa!

E pensa em como a Prudência o enganou;
e
como - que loucura! - sempre lhe acreditou
quando dizia; "Amanhã. Há tempo." - Que trapaça!

Lembra ímpetos que segurou; felicidade,
quanta sacrificou. Cada oportunidade
perdida de
seu saber insensato graceja.

Mas de tanto refletir e recordar
o
velho tonteou. E agora dorme a sonhar
no
café recostado sobre a mesa.

Konstantinus Kavafis