terça-feira, 23 de outubro de 2012

NÃO HÁ VAGAS - Ferreira Gullar



Ferreira Gullar


NÃOVAGAS

O
preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do
arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a
luz o telefone
a
sonegação
do
leite
da
carne
do
açúcar
do
pão

O
funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o
operário
que esmerila seu dia de aço
e
carvão
nas
oficinas escuras

-
porque o poema, senhores,
está fechado:
"
nãovagas"

cabe no poema
o
homem sem estômago
a
mulher de nuvens
a
fruta sem preço

O
poema, senhores,
não fede
nem cheira

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