domingo, 23 de junho de 2013

MONANGAMBA* - Antonio Jacinto

MONANGAMBA*

Naquela roça grande não tem chuva
é o
suor do meu rosto que rega as plantações.
Naquela roça grande tem café maduro
e
aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado,
pisado, torturado,
vai
ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos
regatos de algre serpentear
e ao
vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?
quem traz pela estrada longa
a
tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fubá podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
porrada se refilares”?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os
laranjais florescer
-
Quem?
Quemdinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e
cabeças de preto para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grandeter dinheiro?
-
Quem?
E as aves que cantam,
os
regatos de alegre serpentear
e o
vento forte do sertão
responderão:

-”Monangambééé…”
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
deixem-me
beber maruvo, maruvo
e
esquecer diluído nas minhas bebedeiras
“Monangambééé…”

Antonio Jacinto


* Monangamba: servente, contratado

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